Abstract:
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A morte do padre Católico Jón Arasson, último representante da resistência contra a Reforma Protestante, marca o início de um novo ciclo para a Islândia: a chegada do Protestantismo. Em 1617, a Islândia recebeu a Ordenança de Feitiçaria assinada pelo rei dinamarquês Christian IV, estabelecendo medidas para eliminar aquilo que chamava de abominações e provocações a Deus. No entendimento do rei, fazer sinal da cruz, praticar exorcismos e a utilização de runas, são artes secretas que, mesmo que tragam saúde ou proteção, deveriam ser proibidas. Já os eruditos em tais artes, deveriam ser devidamente punidos. Mesmo nesses dias difíceis, a fé em práticas curativas através da utilização de magia ainda se manteve. É o que podemos encontrar em um grimório de magia produzido no período, o Galdrabók (livro de magia). A invocação de divindades nórdicas se une a orações para Virgem Maria e outras referências, como à cultura greco-egípcia, presentes em alguns dos 47 feitiços que foram compilados ao longo do período em questão. Com esta pesquisa busca-se entender quem foram esses indivíduos perseguidos. Será possível fazer recortes nessa perseguição, como por exemplo
gênero ou posição social? Como o manuscrito, Galdrabók, manifesta a presença de entrelaçamentos transculturais na Islândia desse período? Para contextualizar os acontecimentos desse fenômeno foram analisadas fontes primárias, nominalmente, a Ordenança de Feitiçaria e a Lista de Executados. Além disso, destaco o desenvolvimento de perspectivas teóricas para compreensão do grimório Gladrabók, podendo citar o debate de entrelaçamentos transculturais a partir das leituras de Alexander Fidora, Aline Dias da Silveira, Matthias M. Tischler, Sonja Brentjes e Wolfgang Welsch, e a elaboração de uma metodologia para análise das fontes primárias, a partir da perspectiva de hermenêutica imaginativa, que visa construir um mosaico a partir das fontes, para assim compreender o fenômeno em sua totalidade. Essa proposta metodológica esteve apoiada na pesquisa desenvolvida pela professora Dra. Marcia Schuback. Os resultados dessa pesquisa apontam para a conclusão de que esses indivíduos perseguidos, em sua maioria, eram homens, com acesso à leitura e interpretação de textos, apresentando uma condição social acima da média numa sociedade economicamente pobre. Além disso, ao realizar a análise do Galdrabók, notamos que muito de seu texto continha tradições mágicas vindas do continente europeu, mostrando que havia a presença de uma circulação de conhecimentos que atingia a Islândia. Tal circulação pode ser resultado de estudos realizados no continente pelos filhos da aristocracia local, que ao retornar para casa, traziam consigo material mágico de diferentes culturas, sendo assim assimiladas pelos praticantes locais. |