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O tubarão-charuto, Isistius spp., é um pequeno tubarão oceânico conhecido por
deixar marcas características em suas presas devido ao seu hábito alimentar
oportunista. Entre as principais presas, estão os cetáceos, caracterizando uma
interação interespecífica de natureza ainda não bem conhecida. Marcas dessa
interação já foram documentadas em 13 espécies de cetáceos em águas
brasileiras, totalizando 49 espécies ao redor do mundo. Estas marcas são
frequentemente observadas nos cetáceos por meio da técnica de
fotoidentificação, permitindo, a partir da identificação da lesão, o registro de
ocorrências e prevalências da interação e suas nuances ecológicas. Estudos que
buscam entender essa interação ainda são escassos no Brasil. Portanto, o
presente estudo tem como objetivo avaliar a ocorrência e prevalência de marcas
de mordidas de Isistius spp. em diferentes espécies de cetáceos, testar se este
padrão varia espacialmente, sazonalmente e entre espécies, e investigar
possíveis condições facilitadoras dessa interação. Esse estudo foi realizado a
partir de dados do Projeto de Monitoramento de Cetáceos da Bacia de Santos
(PMC-BS), que monitora em larga escala temporal e espacial as populações de
cetáceos encontradas em águas costeiras e oceânicas da Bacia de Santos,
região que se estende do Rio de Janeiro a Santa Catarina, abrangendo uma área
de cerca de 350 mil km2. Os dados de fotoidentificação foram coletados durante
todas as atividades embarcadas realizadas pelo PMC-BS entre os anos de 2015
e 2021, possibilitando o cruzamento da variação de prevalência e ocorrência de
lesões com variáveis temporais (sazonalidade e interanual) e espaciais
(profundidade e posição geográfica). Todos os registros foram analisados
individualmente a fim de identificar marcas de mordidas de tubarão-charuto nos
cetáceos. A ocorrência foi avaliada através de avistagens de grupos com lesões
por espécie, enquanto a prevalência foi quantificada a partir da razão entre
indivíduos fotoidentificados com mordidas e o total identificado anualmente por
espécie. O acompanhamento das lesões por espécie, permitiu avaliar se
aspectos ecológicos ou biológicos de cada espécie podem favorecer a interação
da mesma com indivíduos de Isistius spp. Foram identificados 131 indivíduos de
19 espécies de cetáceos com marcas de mordidas, sendo que para 13 destas
espécies, estes são os primeiros registros de interação com tubarão-charuto em
águas brasileiras. Para Eubalaena australis, este é o primeiro registro para a
espécie. A prevalência foi maior em espécies oceânicas ou costeiro-oceânicas,
migratórias, que vivem em pequenos grupos e com grande tamanho corporal,
destacando-se os balenopterídeos. A ocorrência foi maior no inverno e
espacialmente, embora não varie latitudinalmente, aumentou com a
profundidade e distanciamento da costa. Estes resultados reforçam que a
interação entre cetáceos e tubarão-charuto deve se limitar às águas oceânicas,
onde ocorre Isistius spp. Assim, os raros registros de lesões em indivíduos em
área costeira podem indicar movimentos longitudinais de uma presa tipicamente
oceânica, porém com uso ocasional de águas costeiras. |
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