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O estudo da memória das paixões nas Confissões de Santo Agostinho tem sua relevância dentro do itinerário agostiniano pelo conhecimento de Deus, na ascensão da própria alma em direção à transcendência. Ademais, esse conceito toma forma na interação entre a memória e as paixões. Com o intuito de explicá-lo, a metodologia utilizada para a pesquisa foi a leitura, análise e reflexão crítica das Confissões e de textos de comentadores (as), dentro desse contexto. Em conjunto, reuniões mensais entre orientadora e orientando ocorreram; porém, em decorrência da pandemia da COVID-19, todas elas foram realizadas virtualmente.
Sobre os resultados, em primeiro lugar é preciso saber que pelo termo ‘memória’ entende-se, nas Confissões, um poder de vida (vitae vis) que guarda uma multiplicidade de coisas (res), entre as quais podem estar as paixões (passionum). A memória é tida como uma realidade incorpórea e, metaforicamente, como um espaço interior. Ela também reflete um caráter temporal, na medida em que possibilita a união das ações e experiências passadas às do presente.
Em segundo lugar, compreende-se pelo termo ‘paixões’ movimentos anímicos que levam a algum alvo em particular. Não obstante, apesar de as paixões (bem como as coisas para as quais elas conduzem) serem múltiplas, elas ainda assim podem ser guiadas em direção à verdadeira unidade.
Nesse âmbito, a retidão tem um papel importante, pois indica tanto a qualidade da paixão (se ela é boa ou não, reta ou viciosa) quanto a da coisa a que conduz. Assim, o que determina o caráter da experiência à qual certa paixão levará é a retidão da paixão, e esta liga-se à vontade que motiva os afetos. Ao mesmo tempo, as paixões também podem ser observadas como alimentos da alma, visão essa que é muito útil ao se considerar a metáfora da memória como estômago da mente.
Por fim, a respeito da memória das paixões ressalte-se as ideias a seguir. Quando a memória e as paixões interagem, a memória das paixões é formada. A memória das paixões é a parte da memória que é encarregada de guardar os afetos. Agostinho clarifica o funcionamento dessa parte da memória por intermédio da metáfora da memória das paixões como estômago da mente. Desse modo, a pessoa pode lembrar-se de tristes experiências passadas sem entristecer-se por isso, ou seja, sem que a paixão passada seja também a paixão do presente. A causa disso é que a memória guarda somente o nome e as noções (notiones), ou notações (notationes), dos afetos, mas não o seu sabor/conteúdo.
As noções passionais podem ser classificadas como noções de afetos retos ou de afetos viciosos, a depender da qualidade da paixão da qual ela foi formada; e, nesse sentido, as noções de afetos retos e viciosos têm funções mentais muito distintas, conforme a vontade que as inspira. Enquanto as noções de afetos retos fazem a pessoa “crescer”, isto é, atuam ativamente na transformação pessoal, as noções de afetos viciosos servem como lições retiradas de experiências afetivas anteriores que podem ser relembradas no presente para agir em conformidade à lei divina. A memória das paixões é, portanto, fundamental no processo de transformação pessoal e de retorno a Deus. |
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