Abstract:
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Introdução: Crianças e adolescentes com cardiopatia congênita podem apresentar fatores de risco adicionais para obesidade central e doença cardiovascular adquirida. Entre os fatores associados, além da condição prévia cardíaca, está o estilo de vida, nível de atividade física e consumo alimentar. Objetivos: Investigar a associação entre consumo de fontes alimentares de proteína e obesidade central em crianças e adolescentes com cardiopatia congênita previamente submetidos a procedimento terapêutico. Métodos: Estudo transversal com crianças e adolescentes com cardiopatia congênita, de 5 a 18 anos, que realizaram procedimento terapêutico. O consumo alimentar foi registrado mediante três recordatórios 24 horas (R24h) e classificado de acordo com a origem proteica: proteínas totais, animais, vegetais e de ultraprocessados, e expressos em g/dia, g/kg/dia e % do valor energético total (VET). Foi realizada a classificação dos cereais com leguminosas, para a avaliação do consumo desta combinação de proteínas vegetais. A obesidade central foi medida pela circunferência da cintura, e os parâmetros cardiometabólicos avaliados foram: pressão sistólica e diastólica, colesterol total, colesterol HDL-c (high density lipoprotein), colesterol não-HDL, colesterol LDL (low density lipoprotein), triglicerídeos, glicose e proteína C reativa ultrassensível (PCR-us). Para determinação do nível de atividade física foi utilizado o questionário Physical Activity Questionnaire for Children (PAQ-C) e o comportamento sedentário foi avaliado pelo tempo de tela. Foi realizada regressão logística univariada e multivariada, sendo expressa em Odds ratio (OR) e intervalo de confiança (IC) de 95%. O valor de p <0,05 foi considerado significativo. Resultados: Foram incluídas 232 crianças e adolescentes, com mediana de idade de 10,02 [7,09;13,04] anos, sendo 93,5% considerada insuficientemente ativa e 53% com comportamento sedentário. O colesterol HDL baixo foi observado em 4,5% das crianças e 14,9% dos adolescentes (p = 0,01). Triglicerídeos limítrofes ou elevados foram observados em 22,9% da amostra total. Em relação à glicose, 13,4% do total da amostra foi classificada como pré-diabetes, dos quais 8,1% eram crianças e 18,2% adolescentes (p = 0,02). Observou-se que o consumo de proteínas foi significantemente maior nas crianças em comparação aos adolescentes. O consumo mediano de proteínas totais das crianças foi de 2,35g/kg/dia e dos adolescentes foi de 1,26g/kg/dia (p = <0,001); a mediana do consumo de proteínas de fonte animal foi de 1,33g/kg/dia para crianças e 0,74g/kg/dia para adolescentes (p = <0,001); a mediana do consumo de proteínas de ultraprocessados foi de 0,22g/kg/dia para crianças e 0,11g/kg/dia para adolescentes (p = <0,001); a mediana do consumo de proteínas vegetais foi de 0,14g/kg/dia para crianças e 0,08g/kg/dia para adolescentes (p = <0,001) e a mediana do consumo de cereais com leguminosas foi de 0,07g/kg/dia para crianças e 0,04g/kg/dia para adolescentes (p = 0,03). Na análise da regressão logística não foram encontradas associações significativas entre o consumo das diferentes fontes proteicas e obesidade central. Conclusão: O consumo de proteínas na amostra desse estudo não apresentou associação com a obesidade central. Contudo, este resultado diverge de outros relatados na literatura. Mais estudos envolvendo o consumo de proteínas em crianças e adolescentes com cardiopatia congênita devem ser conduzidos para que mais resultados sejam avaliados e possa-se, assim, atuar na prevenção de obesidade central, riscos cardiovasculares e promoção de estilo de vida saudável. |