Qualquer coisa serve: um panorama sobre as metodologias e crenças que guiam os profissionais que domam e treinam cavalos no Sul do Brasil

Abstract

Este estudo é dividido em dois capítulos. No primeiro capítulo, foi realizada a seleção de sete passagens do manual de cavalaria escrito por Xenofonte, intitulado Peri Hippikes, no qual o autor grego já revelava uma percepção aprofundada e pouco conhecida ao descrever a necessidade de boas relações entre humanos e cavalos, para a eficácia no treinamento. Estas passagens selecionadas foram comparadas aos métodos de treinamento contemporâneos, que estão de acordo com a literatura científica. Concluiu-se que, as sete técnicas selecionadas para este estudo e as orientações de Xenofonte encontraram amparo na ciência atual, e que a aplicação destes ensinamentos traria benefícios para o bem-estar dos animais no treinamento. A partir deste estudo, surge outra pergunta de pesquisa para novos estudos que possam esclarecer por que as técnicas de Xenofonte que orientavam pelas boas relações humanoanimal não foram populares desde então. No segundo capítulo foi realizada uma pesquisa, baseada em entrevistas com domadores e treinadores de cavalos no Sul do Brasil, para se avaliar o impacto da tradição, na base de conhecimento que guia a escolha de métodos, para o treinamento de cavalos. Além disso, buscou-se realizar um panorama dos profissionais, baseado em suas chaves de crenças. A maioria dos profissionais demonstrou desconhecimento da teoria da aprendizagem de equinos, e conclui-se que, existe neste meio profissional um predomínio do conhecimento tradicional, sem apoio da ciência. Considerando os resultados dos dois capítulos, pode-se perceber um paradoxo, onde a tradição foi seletiva para escolha de técnicas de treinamento de cavalos, onde os cavalos não foram considerados como espécie ou indivíduos que possam compor uma boa relação ou de pareceria com o ser humano, e sim de subserviência, uma vez que a seleção da tradição pode ter sido seletiva em detrimento do bem-estar dos cavalos.

Abstract: This study is divided into two chapters. In the first chapter, the selection of seven passages from the manual of chivalry written by Xenophon, entitled Peri Hippikes, in which the Greek author already revealed a deep and little-known perception when describing the need for good relations between humans and horses, for the training effectiveness. These selected passages were compared to contemporary training methods, which are in line with the scientific literature. It was concluded that the seven techniques selected for this study and Xenophon's guidelines found support in current science, and that the application of these teachings would bring benefits to the welfare of animals in training. From this study, another research question arises for further studies that might shed light on why Xenophon's techniques that guided good human-animal relationships have not been popular since. In the second chapter, a research was carried out, based on interviews with horse tamers and trainers in southern Brazil, to assess the impact of tradition on the knowledge base that guides the choice of methods for training horses. In addition, an overview of the professionals was sought, based on their key beliefs. Most professionals showed a lack of knowledge of the equine learning theory, and it is concluded that, in this professional environment, there is a predominance of traditional knowledge, without scientific support. Considering the results of the two chapters, a paradox can be seen, where the tradition was selective for the choice of horse training techniques, where the horses were not considered as a species or individuals that can compose a good relationship or partnership with the human being, but of subservience, since the selection of tradition may have been selective to the detriment of the horses' well-being.