Efeito de uma sessão de meditação silenciosa e da quantidade prévia de prática de meditação na variabilidade da frequência cardíaca, no nível de mindfulness disposicional e no nível de afeto positivo e negativo de praticantes de meditação

Abstract

A prática de meditação é amplamente conceituada como um método eficaz para se atingir uma maior regulação mental e psicofisiológica a qual é comumente marcada por respostas afetivas e autonômicas específicas. Já a verificação da Variabilidade da Frequência Cárdica (VFC) demonstra ser um método não invasivo e eficiente para a análise da atividade autonômica durante repouso ou atividades. Pesquisas com meditação apontam que as mudanças na atividade desse biomarcador de regulação (VFC) perpassam tanto a excitação como a inibição de vias fisiológicas específicas, havendo indícios que tais mudanças parecem ser afetadas tanto pelo tipo de técnica meditativa como pela quantidade de experiência prévia com meditação. Objetivo: se investigou as diferenças entre índices da VFC durante e após uma intervenção de 20 minutos com meditação em meditadores com diferentes níveis de experiência e de uma tarefa controle de mesmo tempo para não meditadores. Também se verificou os níveis de mindfulness disposicional e afeto positivo e negativo dos participantes. Método: foram avaliados 55 participantes divididos em três grupos a partir da sua quantidade prévia de horas de meditação na vida sendo: a) meditadores experientes (n=24) com mais de 500 horas de meditação; b) meditadores iniciantes (n=22) com menos de 500 horas de meditação; e c) grupo controle ativo de não praticantes de meditação (n=9). Foram avaliados os seguintes índices da VFC: HR1/min; RRms; SDNNms; RMSSDms; LF/HFms²; LFms² e HFms² de todos os participantes, antes, durante e após as intervenções de cada grupo. Resultados: a partir das análises estatísticas foi observado que tanto a sessão de meditação como a quantidade prévia de meditação apresentaram ser fatores capazes de potencializar de forma benéfica os indicadores de regulação avaliados. Somente durante a sessão de meditação pode ser observado um aumento da VFC e redução da frequência cardíaca no período referente aos 20 minutos de meditação em comparação ao período de repouso final. Análises posteriores revelaram que somente os meditadores experientes apresentaram um padrão de redução da frequência cardíaca, aumento da VFC e diminuição da atividade barorreceptora à medida que a medição progredia, com o período de maior atividade autonômica sendo os 10 minutos finais da sessão. Também foi verificado um efeito da quantidade de prática de meditação sobre o afeto positivo [X²(2)=10,278; p<0,05], assim como uma diferença no nível de mindfulness disposicional [U = 56 (z= -2,1); p=.001 p<0,05], sendo que o grupo de meditadores experientes apresentou maiores resultados em ambos os desfechos quando comparados com os não meditadores. Análises de correlação entre o comportamento cardíaco de meditadores durante o período da tarefa de meditação e padrões mentais foram observadas assim como tais resultados pareceu ser condicionado a quantidade prévia de meditação. Conclusão: nossos achados apresentam que uma sessão de meditação sentada e silenciosa de 20 minutos foi capaz de produzir respostas autonômicas de regulação que perpassaram a ativação de índices específicos da VFC, também se observou que uma maior quantidade prévia de meditação parece ser um fator capaz de facilitar de forma benéfica tanto a atividade de indicadores de regulação emocional como autonômica.

Abstract: The practice of meditation is widely known as an effective method to develop mental and psychophysiological regulation which in turn permeate specific affective and autonomic responses to the environment. Also, Heart Rate Varibaility (HRV) verification it is a non-invasive and effective method of verifying autonomic activity during rest or activity. Findings from scientific research indicate meditation practice can result in changes in this regulation biomarker (HRV) activity which result from both arousal and inhibition of specific physiological pathways, and there is evidence that the type of meditation and the amount of previous experience and practice seem to also affect these responses. Aim: To investigate the differences between HRV indices during and after a 20-minute meditation intervention in meditators with different experience levels and a control task with the same duration for non-meditators. The levels of dispositional mindfulness and positive and negative affect of all participants were also verified. Method: 55 participants were divided into three groups based on their previous number of hours of meditation in life: a) experienced meditators (n=24) with more than 500 hours of meditation; b) beginner meditators (n=22) with less than 500 hours of meditation; and c) active control group of non- meditators (n=9). HRV of all participants was investigated using time and frequency indexes (HR1/min; RRms; SDNNms; RMSSDms; LF/HFms²; LFms² and HFms²) before, during and after the interventions corresponding to each group. Results: Statistical analysis showed that not only the meditation session but also the previous experience and amount of practice are able to improve in a beneficial way the activity of the evaluated regulation indicators. Only during the meditation session HRV showed an increase and heart rate a decreased comparing the whole 20 minutes of meditation to the final rest period. Further analysis revealed that only experienced meditators presented a pattern marked by a reduction in heart rate, increase in HRV and decrease in baroreceptor activity as the meditation progressed, with the last 10 minutes of the session being the most active period in autonomic regulation. An effect of the amount of previous meditation practice on positive affect was also verified [X²(2)=10,278; p<0.05], as well as a difference in the level of dispositional mindfulness [U = 56 (z= -2.1); p=.001 p<0.05], being the experienced meditators the ones with greater results in both outcomes when compared with non-meditators. Correlation analyzes between the cardiac behavior of meditators during the period of the meditation task and mental patterns were observed, as such results appeared to be conditioned to the previous amount of meditation. Conclusion: our findings showed that a 20-minute sitting and silent meditation session was able to produce autonomic regulatory responses that permeated the activation of specific HRV indexes, as well as the previous amount of meditation can be a facilitating factor for beneficial results in the indicators of emotional and autonomic regulation.