O Presidente Negro e a eugenia na década de 1920: as relações entre o Brasil e os Estados Unidos

Abstract

Nas últimas décadas do século XIX e até meados do século XX, a eugenia era um dos principais temas de discussão entre a elite intelectual mundial. A eugenia era tida por muitos desses intelectuais como uma ciência. Ciência essa que procurava o aperfeiçoamento da espécie humana através de princípios biológicos. Constituída como um movimento que procurava reformar a sociedade, a eugenia foi nesse período objeto de diversas produções escritas da elite intelectualizada. Levando em consideração esse tema, nesse trabalho é analisado o romance O Presidente Negro de Monteiro Lobato escrito em 1926, que constitui-se como uma dessas produções. O livro é uma ficção científica que imagina um futuro onde a eugenia era aplicada de maneira abrangente na sociedade estadunidense. Pretende-se investigar como a conjuntura histórica da década de 1920 influenciou o discursos eugênicos presentes em O Presidente Negro. Para tal, contextualiza-se a situação da eugenia no Brasil e nos Estados Unidos até a década de 1920 e também as ligações de Monteiro Lobato com o movimento. Ao longo da pesquisa é argumentado que o romance é antes de tudo um fruto de seu tempo, período em que as ideias eugênicas eram amplamente difundidas entre a elite brasileira. Mas também é reflexo da tentativa de seu autor de publicar um livro e fazer sucesso nos Estados Unidos. Além disso, argumentava-se que O Presidente Negro foi um dos capítulos das disputas sobre os significados da eugenia e do debate racial no Brasil da década de 1920.