Refinamento anestésico-analgésico para aplicação em ensaios não clínicos que utilizam procedimentos invasivos em camundongos

Abstract

Introdução - Ensaios não-clínicos, especialmente utilizando camundongos, são essenciais para a definição de eficácia e segurança durante o desenvolvimento de novos fármacos ou produtos médicos. Muitos desses ensaios usam procedimentos invasivos, como cirurgias e queimaduras que podem causar dor e sofrimento duradouros nos animais envolvidos. Nesses casos, o manejo inadequado da dor afeta o bem-estar animal e a validade dos dados científicos em ensaios não-clínicos. Infelizmente, a anestesia e analgesia em procedimentos invasivos em camundongos é pouco satisfatória, com uso de anestésicos gerais injetáveis (p.ex. cetamina + xilazina), anestésicos locais de curta duração (p.ex. lidocaína), analgésicos opioides administrados repetidamente (buprenorfina subcutânea) e/ou analgésicos não-opioides com baixa eficácia e curta duração (p.ex. paracetamol). Além disso, a avaliação de dor e bem-estar dos animais de laboratório durante procedimentos invasivos é muito limitada. Objetivo - Refinar a anestesia e a analgesia multimodal aplicadas em ensaios não-clínicos que utilizam procedimentos invasivos em camundongos. Métodos – Foi mimetizado um grupo com um falso procedimento, que recebeu a anestesia (isoflurano) e os medicamentos analgésicos (morfina, buprenorfina, carprofeno, lidocaína). Verificamos por até 14 dias a eficácia anestésica (profundidade anestésica, duração), analgésica (Teste de Hargreaves e Escala Grimace) e o bem-estar de camundongos machos e fêmeas (escores de nidificação, peso corporal e consumo de água e comida) C57Bl/6 adultos e saudáveis. Uma vez confirmada anestesia e analgesia satisfatória em animais saudáveis, outro grupo de camundongos foi submetido a um modelo de queimadura de terceiro grau, avaliando-se também a anestesia, a analgesia e o bem-estar animal (por até 14 dias). Resultados – Foi constatada uma eficácia anestésica (plano anestésico cirúrgico mantido durante todo o período de anestesia) e analgésica (antinocicepção no Teste de Hargreaves) por até 72 horas pós procedimento, junto com a não expressão facial de dor (escores baixos na Escala Grimace durante todo o experimento), mantendo-se o bem-estar animal durante todo o procedimento (escores altos no Teste de Nidificação, perda de no máximo 15% do peso corporal, consumo de água e de comida mantidos ou aumentados) nos grupos com o falso procedimento e o Grupo Queimado, em machos e fêmeas. Conclusão – O protocolo anestésico - analgésico foi eficaz, seguro e de longa duração, podendo ser usado em ensaios não clínicos que utilizam procedimentos invasivos em camundongos.

Introduction – Non-clinical trials, especially using mice, are essential to define efficacy and safety during new drug and medical products development. A lot of these trials use invasive procedures such as surgery and burns, which can cause lasting pain and suffering in the animals involved. In these cases, the inadequate pain management affects animal well-being and scientific data validity in non-clinical trials. Unfortunately, mice anesthesia and analgesia in invasive procedures is not quite satisfactory, using general injectable anesthesics (ketamine + xilazine), low duration local anesthesics (lidocaine), repeated administered opioids (subcutaneus buprenorfine) and/or non-opioid analgesics with low efficacy and low duration (paracetamol). Furthermore, pain avaliation and laboratory animal well-being during invasive procedures is very limited. Objetive – Refine anesthesia and multimodal analgesia applied in non-clinical trials using invasive procedures in mice. Methods – First, a False Procedure Group was mimethized, receiving anesthesia (isoflurane) and analgesics (morphine, buprenorphine, carprofen and lidocaine). We verified for 14 days the anesthesic efficacy (anesthesic depht, duration), analgesic efficacy (Hargreaves Test and Grimace Scale) and C57Bl/6 adult and healthy male and female mice well-being (Nest Building, body weight, water and food consumption). Once confirmed satisfatory anestesia and analgesia, another mice group was submitted to a third degree burn model, also assessing anesthesia, analgesia and animal well-being (for 14 days). Results – An anesthesic (surgical anesthesic plan was mantained during the entire anestesia) and analgesic (antinociception on the Hargreaves Test) efficacy was verified for at least 72 hours post procedure, togheter with the non pain facial expressions (low scores on the Grimace Scale during all the experiments), sustaining animal well-being during all times evaluated (high Nest Building scores, maximum 15% of body weight loss, water and food consumption maintained or increased) on False Procedure and Burnt Groups, male and female. Conclusion – The anesthesic – analgesic protocol was effective, safe and long lasting, and could be used in non-clinical trials that use invasive procedures in mice.