O gesto da montagem: ou As latências do pensamento

Abstract

Se esta tese tem um objeto de estudo, este objeto é a montagem. Não aquela compreendida meramente como uma técnica, mas a montagem como um gesto inerente ao pensamento. Minha hipótese é a de que a montagem é pensamento e as operações que podem ser feitas pelo pensamento para dar sentido às coisas. As cenas que compõem este trabalho, apesar de terem autonomia entre si, formam constelações que se entretecem para pensar a montagem a partir de diversas perspectivas. A intenção é articular uma teoria expandida da montagem atravessada por múltiplas dimensões: o método, o tempo, a técnica, o sentido, a imagem, o arquivo, as fantasmagorias, o anacronismo, a experiência, a melancolia, a memória, a comunicação. Essa intrincada estrutura, orientada principalmente pelo método dialético de Benjamin, encontra suas forças tanto nos elementos materiais (nas constelações montadas através dos fragmentos de filmes, de romances, de teorias, de conceitos, de poesias, de músicas, de obras de artes, de entrevistas e arquivos) quanto nos elementos construtivos da linguagem e da narrativa. Nesta articulação estão postos em tensão a montagem como instrumento utilitário e a montagem como um gesto. Enquanto a primeira se afasta das potências do pensamento e é utilizada como uma ferramenta de poder que aliena, manipula, disciplina e controla os corpos; a segunda não se deixa apropriar facilmente pelas instâncias do poder e se levanta contra elas, preservando, com seus gestos, as diferenças, as singularidades e as pluralidades.

Abstract: If this thesis has an object of study that object is the montage. Not the one merely understood as a technique, but montage as a gesture inherent in thought. My hypothesis is that montage is thought and it is the processes that can be created by thought to make sense of something. The scenes that compose this work, despite being independent of each other, form constellations that intertwine to think about the montage from different perspectives. The intention is to articulate an expanded montage theory crossed by multiple dimensions: method, time, technique, meaning, image, archive, phantasmagoria, anachronism, experience, melancholy, memory, and communication. This intricate structure, guided mainly by Benjamin's dialectical method, finds its strengths both in the material elements (in the constellations gathered through the fragments of movies, novels, theories, concepts, poems, songs, pieces of art, interviews and archives) and in the shaping elements of language and narrative. In this representation, montage, as a functional instrument, and montage, as a gesture, are put in tension. While the first moves away from the forces of thought and is used as a tool of power that alienates, manipulates, disciplines and controls bodies; the second does not allow itself to be easily appropriated by the representatives of power and rises against them, preserving, with its gestures, differences, singularities and pluralities.