Desenvolvimento de jovens atletas de voleibol brasileiros: estudo multidimensional

Abstract

O desenvolvimento de jovens jogadores de voleibol para atingir a expertise na carreira adulta não é linear e dependente de diferentes dimensões que potencialmente interagem entre si. O desenvolvimento dessas dimensões pode ser influenciado por características individuais, contextuais, processuais e temporais. Diante da complexidade do fenômeno, abordagens multidimensionais são necessárias para compreender o desenvolvimento de jovens atletas. A presente tese tem como objetivo analisar os percursos de desenvolvimento de jovens atletas do voleibol brasileiros assumindo uma abordagem multidimensional. Esta tese de doutorado foi desenhada no modelo alternativo com um compilado de três artigos científicos, sendo um destes uma revisão de escopo e dois artigos empíricos. Inicialmente, foi conduzida uma revisão de escopo para avaliar criticamente a produção científica sobre características metodológicas do campo de pesquisa do voleibol relacionadas ao desenvolvimento de jovens atletas. Posteriormente, foi apresentado o desenvolvimento de jovens atletas de voleibol diante de avaliações de desenho transversal e longitudinal misto. Para esses estudos, participaram da pesquisa jovens jogadores do sexo feminino e masculino, integrantes de dois programas esportivos com treinamentos formais (um em Curitiba/PR e outro em Florianópolis/SC) e com registro na federação estadual para participação em competições da modalidade. As avaliações ocorreram durante a temporada esportiva de 2019 (pré, meio e final) e no início da temporada 2020. As variáveis coletadas no estudo foram informações individuais dos atletas (sexo, idade cronológica, posição de jogo, estado de maturação biológica, idade de início de prática deliberada e acumulada), psicológicas (questionários psicométricos de motivação para a prática deliberada, motivação para a excelência e competitividade), capacidades funcionais (sprint de 10 metros [10-m sprint], salto vertical [salto com contramovimento], potência de membros superiores [lançamento de bola medicinal de 2kg] e teste de agilidade específico de voleibol) e antropométricas (estatura, massa e envergadura). Os estudos impíricos foram aprovados pelo o Comitê de Ética de Pesquisa em Serem Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina, sob protocolo nº 71260117.2.0000.0121. Como resultado da revisão de espoco, foram apresentadas seis grandes dimensões do jovem atleta de voleibol estudadas: dimensão física, sociológica, de lesões, psicológica, técnico-tática e multidimensional. Ainda, foi detectada a lacuna científica acerca de trabalhos multidimensionais com uma abordagem longitudinal para entender o desenvolvimento do jovem atleta de voleibol. Ao considerar o artigo transversal, participaram 162 atletas de voleibol de ambos os sexos. Foram consideradas as variáveis individuais, psicológicas, de capacidade funcional e antropométricas, analisadas com uma abordagem hierárquica (multinível) para estudar a influência das características individuais e contextuais sobre os traços das capacidades físicas e características psicológicas. Os parâmetros foram estimados e interpretados com a inferência e método Bayesianos. Esse primeiro estudo impírico mostrou que o início da prática formal no voleibol ocorreu em média durante ou após o período de desenvolvimento pubertário. Destaca-se que não foi observada a variação substancial associada ao início de prática formal no voleibol nas capacidades funcionais e indicadores de características psicológicas. Por fim, foi possível identificar que não houve variação da motivação entre os grupos de idade de início da prática deliberada. O estudo empírico longitudinal misto contou com 66 atletas de sexo masculino, totalizando192 observações. As variáveis incluídas foram as individuais, de capacidade funcional e antropométricas. Os modelos hierárquicos (multiníveis) foram adotados para estudar as tendências de desenvolvimento das capacidades físicas ao longo da temporada, baseados na inferência e métodos Bayesianos para estimar e interpretar os parâmetros. De maneira geral, não houve variação entre as posições de jogo nas capacidades físicas durante a temporada. Ao longo do tempo houve uma ligeira variação positiva no desenvolvimento dos membros superiores durante a temporada esportiva, independentemente da posição de jogo e grupo etário competitivo. Durante a segunda metade da temporada esportiva, houve um ligeiro decréscimo do salto vertical dos atletas mais velhos (sub17 e sub19). Portanto, o desenvolvimento do jovem atleta de voleibol com uma abordagem multidisciplinar longitudinal permitiu a apresentação de características que podem contribuir para a interpretação da identificação, seleção e desenvolvimento do jovem atleta na modalidade. Neste sentido, informações individuais, contextuais e de tempo influenciam o desenvolvimento das dimensões psicológicas, antropométricas e de capacidades funcionais. Dessa forma, deve-se considerar a idade cronológica, biológica e esportiva, sexo e grupo etário competitivo para entender este fenômeno, tendo uma perspectiva abrangente, sobretudo, ao longo do tempo.

Abstract: The development of young volleyball players to achieve expertise in their adult careers is non-linear and dependent on different dimensions that potentially interact with each other. The development of these dimensions can be influenced by individual, contextual, procedural, and temporal characteristics. Multidimensional approaches are necessary to understand the development of young athletes. The present thesis aims to examine the developmental paths of young Brazilian volleyball athletes, assuming a multidimensional approach. This doctoral thesis has three studies: a scoping review and two empirical articles. Initially, a scoping review was conducted to critically evaluate the scientific production on methodological characteristics of the volleyball research field related to the development of young athletes. Subsequently, the development of young volleyball athletes was presented in front of evaluations of transversal and longitudinal with a mixed design. For these studies, participates were young male and female players, members of two sports programs with formal training (one in Curitiba/PR and the other in Florianópolis/SC), and registered in the federation for participation in competitions of the modality. The evaluations occurred during the 2019 sports season (pre, mid, and post) and at the beginning of the 2020 season. The variables collected in the study were: players' characteristics (sex, chronological age, playing position, biological maturation status, age of the beginning of deliberate and cumulative practice), psychological (psychometric questionnaires of motivation for deliberate practice, motivation for excellence and competitiveness) and functional characteristics (10-meter sprint [10-m sprint], vertical jump [countermovement jump], upper limb power [2 kg medicinal ball throw] and volleyball-specific agility test) and anthropometric measures (stature, mass, and wingspan). The research was approved by the Ethics Committee for Research on Human Beings of the Federal University of Santa Catarina under protocol number 71260117.2.0000.0121. The scoping review found six major dimensions of the young volleyball athlete studied: physical, sociological, injury, psychological, technical-tactical, and multidimensional dimensions. In addition, this work presented the scientific gap in multidimensional studies with a longitudinal approach to understanding the development of young volleyball athletes. In the cross-sectional paper, 162 volleyball athletes of both sexes participated. Individual, psychological, functional capacity and anthropometric variables were considered. Was used a hierarchical (multilevel) modeling approach to study the individual and contextual characteristics' influence on physical and psychological performance traits. Parameters were estimated and interpreted with Bayesian inference and methods. In this study, was observed that the beginning of formal practice in volleyball occurred on average during or after the period of pubertal development. No substantial variation associated with the beginning of formal practice in volleyball in functional abilities and indicators of psychological characteristics was observed. Lastly, it was possible to identify that there was no variation in motivation between the age groups of initiation of deliberate practice. The longitudinal mixed study considered 66 male athletes comprising 192 observations. We considered players' characteristics (chronological age, maturity status, age of specialization, stature, and body mass), functional capacity (10-m sprint, countermovement jump, 2 kg medicinal ball throw, and volleyball-specific agility test), and anthropometric variables. Bayesian Hierarchical (multilevel) models were adopted to study the development trends of physical performances across the season. Overall, there was no variation between the playing positions in physical abilities during the season. Over time there was a slight positive variation in upper limb development during the competitive season, regardless of playing position and age group. During the second half of the competitive season, there was a slight decrease in the vertical jump of the older athletes (U17 and U19). Therefore, the development of the young volleyball athlete with a longitudinal multidisciplinary approach allowed to describe individual characteristics that can contribute to the interpretation of the development of young volleyball players. Overall, individual, and contextual variables across the developmental period of young athletes need to be considered to interpret outcomes of size, function, behavior and performance. Hence, the chronological, biological and sports ages, sex and competitive age group need to be considered to understand this pathway, having a comprehensive perspective, especially, over time.