Perspectivas sobre a demarcação: um estudo filosófico sobre os demarcacionistas, pessimistas e perseverantes

Abstract

A busca por demarcar ciência e não-ciência, ciência e pseudociência ou questões análogas é uma questão clássica e persistente na filosofia da ciência ou em áreas afins. Este trabalho mapeia as principais perspectivas sobre o assunto, porém o circunscreve essencialmente à segunda metade do século XX. A arquitetura da tese defende que podemos estruturar a discussão em três tendências: ?demarcacionistas?, ?pessimistas? e ?perseverantes?. Os ?demarcacionistas? entendem que é possível delimitar precisamente com critério(s) a(s) fronteira(s) da ciência diante de outras atividades. Os autores que trabalham com essa abordagem estão, em graus de sofisticação distintos, presentes no primeiro e segundo capítulos. Os ?pessimistas? argumentam que esse projeto não comporta solução filosófica satisfatória ou mesmo alguma desejável. Os autores dessa perspectiva estão nos capítulos dois e três. Os ?perseverantes? compreendem um grupo bem heterogêneo cuja marca é o reajuste nas expectativas teóricas (metodológicas, epistemológicas e metacriteriais), nos pressupostos tácitos e, sobretudo, na incorporação de preocupações com elementos extrafilosóficos (social, cultural, profissional, retóricos e pragmáticos) para encaminhamento alternativo. Trata-se de uma posição reativa às outras duas. Todos estão no capítulo três. Paralelamente e, em continuidade com algumas perspectivas ?perseverantes?, defenderemos uma hipótese específica: o problema da demarcação seria melhor interpretado como um problema dual. Ou seja, a demarcação, sob esse ponto de vista, é atravessada tanto por uma dimensão teórica (analítica) quanto uma prática (socioinstitucional). Portanto, nos três capítulos, reconstruímos a discussão da demarcação e, intermitentemente, articularmos observações que apoiem a nossa hipótese perseverante dual.

Abstract: The quest for demarcating science and non-science, science and pseudoscience or similar categories is a classic and persistent question in philosophy of science or related areas. This work maps the main perspectives about the subject, circumscribing it to the second half of the 20th century. The architecture of the thesis argues that we can structure the discussion among three trends: ?demarcationist?, ?pessimist? and ?persevering?. The ?demarcationists? claim that it is possible to provide criteria that neatly delineate the contours of science in relation to other activities. The authors who defend this approach are, in different degrees of sophistication, present in the first and second chapters. The ?pessimists? argue that this project does not engender a satisfactory or even a desirable philosophical solution. The authors of this approach are in chapters two and three. The ?persevering? constitute a very heterogeneous group whose hallmark is the readjustment of theoretical expectations (methodological, epistemological and metacriterial), tacit assumptions and, mostly, incorporation of concerns with extra-philosophical elements (social, cultural, professional, rhetorical and pragmatic) for alternate routing. This position is reactive to the other two. Authors which we ascribe to the persevering group are presented in chapter three. In parallel, and in continuity with some persevering perspectives, we will defend a specific hypothesis: the problem of demarcation would be better interpreted as a dual problem. In other words, in this point of view the demarcation is crossed by both theoretical (analytical) and practical (socio-institutional) dimensions. Therefore, in the three chapters we reconstruct the demarcation discussion and, intermittently, articulate observations that support our dual persevering hypothesis.