"Injusta agressão": Uma etnografia das narrativas sobre violência e morte escritas pela PMSC

Abstract

O presente trabalho é uma etnografia da plataforma oficial de notícias da Polícia Militar de Santa Catarina, a PMSC Notícias. A partir de um quadro teórico da Antropologia do Estado e da representação social, a plataforma é compreendida como um veículo de comunicação e performance de Estado. O campo da segurança pública em Santa Catarina é contextualizado a partir das mudanças políticas da eleição de 2018 e da pandemia de COVID-19. A partir disso a PMSC Notícias é descrita e as notícias são analisadas por meio de um recorte temporal e temático, com a análise focada naquelas matérias que falam sobre a morte, o morrer e os mortos no ano de 2021. A análise das notícias se deu por meio da organização estatística dos dados, interpretação da estrutura dos textos e da cooperação textual, análise das imagens e das representações criadas nessas narrativas acerca da morte, do morrer, dos mortos, da violência e da ação policial. O trabalho enfatiza as diferentes formas como mortes naturais e mortes violentas são descritas nas notícias. Foram encontradas 40 notícias sobre mortes dentre as 1175 veiculadas em 2021, as quais foram categorizadas em cinco de tipos de mortes: a) mortes naturais; b) mortes violentas “culposas”; c) mortes violentas “dolosas” causadas por “criminosos”; d) mortes violentas “dolosas” causadas pela PMSC e; e) mortes violentas por suicídio. A pesquisa etnográfica identificou que as mortes naturais foram descritas com maior pessoalidade pelos mortos serem militares, enquanto assassinatos cometidos pela PMSC foram descritos como procedimentos padrão em resposta à "injusta agressão” cometida pelos acusados contra os policiais antes de serem mortos. A pesquisa evidenciou que a “violência” é uma forma de representação social e é entendida como tal a partir de quem efetua e quem recebe a agressão. A partir do acionamento da categoria “injusta agressão” a violência letal da polícia é compreendida como ação legítima e o Estado produz uma imagem de si como eficiente guardião da segurança.