Representações sociais sobre saúde-doença de homens rappers

Abstract

O presente estudo é fruto de uma aproximação entre a Saúde Coletiva e o Movimento Social Cultural Hip Hop, com o objetivo principal de compreender as representações sociais de saúde-doença de homens rappers que vivenciaram a privação de liberdade. Para tanto, baseou-se no diálogo teórico-metodológico construído entre a Teoria das Representações Sociais de Serge Moscovici e a Teoria da Análise do Discurso proposta por Michel Pêcheux. Trata-se de uma pesquisa exploratória com abordagem qualitativa, que utilizou entrevistas narrativas biográficas, observação participante e análise de canções do gênero discursivo rap dos mesmos participantes da pesquisa. No intuito de se aproximar ainda mais da realidade social em que vivem os narradores, as entrevistas narrativas e a construção do diário de campo aconteceram simultaneamente com a imersão da pesquisadora no campo. Para subsidiar as análises, foi realizada uma revisão de literatura sobre o movimento social e cultural Hip Hop, o sistema prisional brasileiro e a situação de saúde dos homens privados de liberdade, bem como, foram considerados os modelos conceituais em saúde e os aspectos mais relevantes da história da saúde no Brasil, destacando as contribuições dos movimentos sociais para a implementação do Sistema Único de Saúde e o nascimento da Saúde Coletiva. A técnica de análise do discurso foi utilizada no tratamento dos dados. A análise das canções de rap é apresentada inicialmente, seguida pela análise das entrevistas narrativas, organizadas em sequências discursivas. Concluiu-se que as representações sociais de saúde-doença dos rappers estão relacionadas aos Determinantes Sociais da Saúde, às Determinações Sociais, às Interseccionalidades e aos diversos modelos conceituais de saúde-doença construídos ao longo da história. Por fim, os discursos abordaram temas como seletividade penal, racismo estrutural, corrupção do colarinho branco, posições sociais, colonialismo, escravidão, dentre outros. Os resultados impulsionaram reflexões teóricas em torno da Psicanálise, Saúde Coletiva, Sociologia, Filosofia e Representações Sociais, enfim, diferentes áreas do conhecimento e campos de saber.

Abstract: The present study is the result of an approximation between Collective Health and the Hip Hop Cultural Social Movement, with the main objective of understanding the social representations of health-illness of male rappers who have experienced deprivation of liberty. The study is based on the theoretical and methodological dialogue built between Serge Moscovici's Theory of Social Representations and the Theory of Discourse Analysis proposed by Michel Pêcheux. This exploratory research with has qualitative approach, which used biographical narrative interviews, participant observation, and analysis of songs from the rap discourse genre written by the participants of the research. In order to get even closer to the social reality in which the narrators live, the narrative interviews and the construction of the diary of events took place simultaneously with the researcher's immersion in the field. To support the analyses, a literature review about the Hip Hop social and cultural movement was carried out, the brazilian prison system and the health condition of men deprived of freedom, the conceptual models in health, and the most relevant aspects of the history of health in Brazil were considered, highlighting the contributions of social movements to the implementation of the Unified Health System and the birth of Collective Health. The discourse analysis technique was used in the data treatment. The analysis of the rap songs is initially presented, followed by the analysis of the narrative interviews, which were organized in discursive sequences. It was concluded that the rappers' social representations of health-illness are related to the Social Determinants of Health, Social Determinations, Intersectionalities, and the various conceptual models of health-illness constructed throughout history. Finally, the speeches addressed issues such as penal selectivity, racism, white-collar corruption, social positions, colonialism, slavery, etc. They stimulated theoretical reflections around Psychoanalysis, Collective Health, Sociology, Philosophy, Social Representation, different areas of knowledge and fields of expertise.