Narrativas caleidoscópicas: encontros ao acaso na literatura latino-americana contemporânea

Abstract

A presente tese apresenta uma leitura das obras Últimos fuegos (2005) de Alejandra Costamagna, Onze: uma história (1995) de Bernardo Carvalho e Flores (2001) de Mario Bellatin, impulsionada pelo seguinte questionamento: que imagens são geradas a partir dos encontros ao acaso nas narrativas? Ancorada nesta questão, a imagem adotada nesse estudo é a do caleidoscópio, objeto lúdico-científico que apresenta proximidades com as armações que as narrativas apresentam: as pequenas peças que constituem os enredos (personagens, temas, lugares, pensamentos, signos etc.) se chocam e realizam encontros ao acaso, gerando experiências e imagens distintas, tal como em um caleidoscópio. São caquinhos que se deslocam e que a partir das conexões que realizam acabam escapando daquilo que é fixo e estável. Essas narrativas caleidoscópicas apresentam-se potencialmente capazes de produzir e desencadear entre e através de seus elementos um espaço fértil de vivências, no qual o perambular incessante de peças acaba por se repetir, e a cada novo movimento arranjam outra posição, gerando diferenças, trocas e a criação de novas realidades. Atribuindo a estas configurações discursivas a imagem mutável do caleidoscópio, esta escrita se delineou a partir da problematização do conceito de encontro, dos filósofos Baruch Espinosa e Gilles Deleuze, que enlaçado à noção físico-matemática de acaso, discutida por James Gleick e outros teóricos, possibilitou a criação das leituras aqui realizadas. Estas leituras apontaram para a força do acaso, do choque entre as peças, do entrecruzamento entre elas, como elementos que propiciam outras rotas, outras visões, outras potencialidades de vida.

Abstract: The present research proposes a reading of the works Últimos fuegos (2005) by Alejandra Costamagna, Onze: uma história (1995) by Bernardo Carvalho and Flores (2001) by Mario Bellatin, driven by the following question: what images are generated from the encounters that do they occur at random in the narratives? Anchored in this question, the image adopted in this study is that of the kaleidoscope, a ludic-scientific object that is close to the frameworks that the narratives of the works present: the small pieces that constitute the plots (characters, themes, places, thoughts, signs etc.) collide with each other and experience random encounters, generating distinct experiences and images, as in a kaleidoscope. They are little pieces that slide, move and, from the connections they make, end up escaping from what is fixed. These kaleidoscopic narratives are potentially capable of producing and triggering, between and through their elements, a fertile space for experiences, in which the incessant and accidental wanderings of body-pieces end up repeating themselves, and with each new movement they propose to be in another position, generating differences, exchanges and the creation of new realities. Attributing to this discursive configuration the notion of kaleidoscopic-works, this reading proposal was outlined from the problematization of the concept of encounter, by the philosophers Baruch Espinosa and Gilles Deleuze, which linked to the physical-mathematical notion of chance, discussed by James Gleick and other theorists made this reading possible.