Trabalho ubíquo: arranjos, estratégias e repercussões no cotidiano docente

Abstract

Nesta tese são analisados e discutidos dados de um estudo de caso múltiplo realizado com professores/as a respeito da constituição do trabalho docente como um trabalho ubíquo. A ubiquidade, como um problema sociológico, é tomada por objeto de estudo coetâneo do tempo presente, permeado por práticas sociais e culturais com o uso de tecnologias digitais e móveis. Atrelada à aceleração da estrutura temporal construída socialmente e capturada pelo novo espírito do capitalismo, alcança as relações de trabalho e, mais especificamente, do docente. A pesquisa está localizada na interface da sociologia do trabalho, da sociologia do tempo e da emergente sociologia digital. Compreende a ubiquidade como objeto de estudo contemporâneo ? vinculada à emergência de espaços digitais e do trânsito intermitente entre eles pela via da hipermobilidade ?, contudo, com raízes históricas que remetem às mediações técnicas empregadas na regulação social do espaço-tempo. A partir da compreensão histórica da ubiquidade e de suas relações com as atividades laborais mobilizadas com tecnologias digitais e móveis, emerge o trabalho ubíquo constituído por quatro dimensões indissociáveis: a pulverização do tempo, a técnica temporal multitarefa, o desbordamento de fronteiras e a conjugação da simultaneidade e da onipresença em distintos espaços. Os estudos de caso, caracterizados como pesquisa qualitativa, foram realizados por meio de survey, com professores/as dispersos/as temporal e geograficamente no Brasil, com o objetivo de analisar a constituição do trabalho ubíquo nesse segmento profissional e investigar quais são e de que modo se consubstanciam suas repercussões para os/as docentes. Os dados indicam que a ubiquidade não é a causadora, mas a indutora da reorganização do tempo de trabalho de docentes, à medida que potencializa o seu prolongamento, a extensão dos espaços de trabalho, a realização de tarefas simultâneas, a aceleração de demandas, o borramento de fronteiras entre público e privado, o aumento de interrupções durante as atividades ou no descanso e coloca o/a docente sempre em prontidão para o serviço, à medida que se mantém conectado/a por dispositivos digitais, sobretudo móveis. Em que pesem a otimização do tempo, a diminuição dos deslocamentos físicos e a celeridade em alguns processos, a economia de tempo não reverte em melhores condições de trabalho, nem reverte em mais tempo livre para esses/as profissionais, mas, ao contrário, facilita o contato com eles em tempo integral.

Abstract: In this thesis, data from a multiple case study carried out with professors regarding the constitution of the teaching work as a ubiquitous work are analyzed and discussed. Ubiquity, as a sociological problem, is taken as an object of study contemporaneous with the present time, permeated by social and cultural practices with the use of digital and mobile technologies. Linked to the acceleration of the socially constructed temporal structure and captured by the new spirit of capitalism, it reaches work relationships and, more specifically, the teaching work. The research is located at the interface of the sociology of work, the sociology of time and the emerging digital sociology. It comprehends ubiquity as a contemporaneous object of study ? linked to the emergence of digital spaces and the intermittent transit between them through hypermobility -, however, with historical roots that refer to the technical mediations used in the social regulation of time-space. From the historical understanding of ubiquity and its relations with labor activities mobilized with digital and mobile technologies, ubiquitous work emerges, consisting in four indissociable dimensions: the pulverization of time, the multitasking temporal technique, the overflowing of borders and the conjugation of simultaneity and omnipresence in different spaces. The case studies, characterized as qualitative research, were conducted through survey, with professors temporally and geographically dispersed in Brazil, in order to analyzing the constitution of the ubiquitous work in this professional segment and investigating what they are and how they reverberate on professors. The data indicate that ubiquity is not the cause, but the inductor of the reorganization of professors' working time, since it enhances its prolongation, the extension of work spaces, the performance of simultaneous tasks, the acceleration of demands, the blurring of boundaries between public and private, the increase in interruptions during activities or during break and always puts the professor on readiness for the service, as he/she remains connected by digital devices, especially mobile ones. Despite the optimization of time, the reduction of physical displacements and the celerity in some processes, the time savings do not result in better working conditions, nor in more free time for these professionals, but, on the contrary, it facilitates contacting them full-time.