Sobre as condições da liberdade em Sartre

Abstract

A liberdade é o cerne de todo o pensamento filosófico de Jean-Paul Sartre. Afirmada com radicalidade, não como atributo mas como o próprio ser do homem, sua defesa soa por vezes contraintuitiva: em todos os aspectos da existência que observamos, nos deparamos com determinações que aparentam invalidá-la ou mesmo aniquilá-la sob um destino inerte que a recobre. Faz-se necessário, assim, investigar a natureza desses (aparentes) limites que se impõem à liberdade, o que significa indagar sobre suas condições de possibilidade. Abordar-se-á a liberdade em duas vias: do ponto de vista ontológico, através da relação da liberdade com o nada e a consciência, visto que os três termos constituem a subjetividade em um percurso que vai da ontologia à fenomenologia, e que levará a analisar estruturas como a temporalidade, a reflexão e o surgimento do psíquico, colocando em relevo que todas elas fundamentam-se no ser-livre do homem. Já do ponto de vista concreto, a liberdade situada tem de se haver com o mundo e com o Outro na efetividade da existência, o que coloca o homem na lida direta com a materialidade e imerso em um campo social complexo que conduzirá à análise, por fim, de formas de condicionamento e manipulação do indivíduo no meio social. Tais descrições desvelam resistências que poderiam ser encaradas como limites e que ameaçariam a tese sartriana de uma liberdade radical. O intuito do trabalho, portanto, será examinar estas determinações e reduzi-las ou à contingência do ser ? solo tão irremovível quanto necessário para que a liberdade vigore ? ou à própria liberdade, seja a minha, seja a do Outro ? o que significa, ao fim: somente a liberdade pode limitar a si mesma.

Abstract: Freedom is at the heart of all of Jean-Paul Sartre's philosophical thought. Radically stated, not as an attribute but as the very being of man, his defense sometimes sounds counterintuitive: in all aspects of existence that we observe, we are faced with determinations that seem to invalidate or even annihilate it under an inert destiny that covers it. It is therefore necessary to investigate the nature of these (apparent) limits imposed on freedom, which means to inquire about its conditions of possibility. Freedom will be approached in two ways: from the ontological point of view, through the relationship of freedom with nothingness and consciousness, since the three terms constitute subjectivity in a path that goes from ontology to phenomenology, and that will lead to analyze structures such as temporality, reflection and the emergence of the psychic, highlighting that all of them are based on man's being-free. From the concrete point of view, situated freedom has to deal with the world and with the Other in the effectiveness of existence, which puts man in direct dealing with materiality and immersed in a complex social field that will lead to the analysis, for end, of forms of conditioning and manipulation of the individual in the social environment. Such descriptions reveal resistances that could be seen as limits and that would threaten the Sartrean thesis of a radical freedom. The purpose of the work, therefore, will be to examine these determinations and reduce them either to the contingency of being ? ground as irremovable as necessary for freedom to take effect ? or to freedom itself, whether mine or the Other?s ? which means, to the end: only freedom can limit itself.