A fé na cultura do saber: a cosmovisão de Afonso X através da astromagia da Cantiga 125 de Santa Maria

Abstract

A fonte principal analisada neste trabalho é a cantiga de número 125 das Cantigas de Santa Maria, intitulada muit e maior o ben fazer. Ela é compreendida através da metáfora visual do iceberg astromágico. Nesta analogia, o contexto histórico do caldeirão de culturas da Península Ibérica do século XIII, as nuances da disputa do poder espiritual e temporal, e a busca pela legitimidade cultural perante a polaridade complementar da fé e do saber, compõem o limiar do evidenciado flutuante e do oculto submerso. Esta separação divide o conjunto de produções do scriptorium ordenadas por Afonso X. A parte visível/acessível do iceberg é composta pelos documentos legislativos e burocráticos da coroa e as Cantigas de Santa Maria, a expressão lírica com maior difusão e alcance desses documentos. A ponta do iceberg seria a Cantiga 125. A parte invisível/restrita é composta pelo arcabouço de traduções, compilações e criações imagéticas do corpus documental astromágico, resultante de um entrelaçamento cultural de diversas tradições do saber no espaço e no tempo. Para contemplar os motivos dos elementos astromágicos presentes em uma obra poética cristã e a singularidade do conhecimento mágico salomônico e harraniano presentes nas iluminuras, perante as adversidades do contexto histórico, iremos explorar os investimentos do velho Afonso para assimilar e propagar os conhecimentos platônicos multiculturais, que por consequência geraram o amadurecimento da cultura do saber do mundo que a coroa de Castela teve influência. Este trabalho agrega a percepção do projeto político cultural centralizador de Afonso X de Castela e a fundamentação cosmológica do monarca, onde o conhecimento seria o melhor fundamento da fé, isto é, a fé na cultura do saber.

Abstract: The main source analyzed in this work is the Cantiga 125 of the Cantigas de Santa Maria, named muit e maior o ben fazer. It is understood through the visual metaphor of an astromagical iceberg. In this analogy, the historical context of the cauldron of cultures of the 13th century Iberian Peninsula, the nuances of the dispute over spiritual and temporal power, and the search for cultural legitimacy in the face of the complementary polarity of faith and knowledge, make up the threshold of the floating evidence and of the submerged occult. This separation divides the set of productions of the scriptorium ordered by Afonso X. The visible/accessible part is comprised of the legislative and bureaucratic documents of the crown and the Cantigas de Santa Maria, a lyrical expression with greater diffusion and scope of these documents. The summit of this iceberg would be the Cantiga 125. The invisible/restrained part is comprised by the union of translations, compilations and images of the astromagic documentary corpus, resulting from a cultural interweaving of various traditions of knowledge of space and time. To contemplate the reasons of the astrological elements, present in a Christian poetic work and the singularity of the Solomonic and Harranian magical knowledge present in the illuminations, despite the adversities of the historical context, we will explore the investments of the old Afonso to assimilate and propagate the multicultural platonic knowledge, which consequently matured the culture of knowledge of the world that the kingdom of Castile had an influence over it. This work adds to the perception of the centralizing political-cultural project of Afonso X of Castile, and the cosmological foundation of the monarch, in which knowledge would be the best foundation of faith, i.e., the faith in the culture of knowledge.