Influência da modalidade dietética e estado nutricional na hospitalização nos primeiros 2 anos de vida de crianças com fibrose cística

Abstract

Introdução: A fibrose cística (FC) é uma doença genética que, a partir de uma mutação, desencadeia alterações fisiológicas responsáveis por secreções mucosas hiper viscosas que comprometem diferentes sistemas do organismo. Pode contribuir para manifestações clínicas como aumento do Gasto Energético de Repouso , insuficiência pancreática , má digestão ou má absorção e, consequente, desnutrição secundária. Essas manifestações clínicas desencadeadas pelas singularidades da doença estão relacionadas com o comprometimento do estado nutricional. Assim, os aspectos nutricionais têm grande relevância nos desfechos da FC, uma vez que o estado nutricional de pacientes com FC influencia diretamente o prognóstico da doença. Dessa forma, evidenciada a influência do estado nutricional nas manifestações clínicas da doença e a importância de um suporte nutricional adequado, o impacto da modalidade dietética e estado nutricional na hospitalização em pacientes com FC carece de estudos maiores e mais delineados. Objetivos: Assim, esse estudo teve como objetivo avaliar a influência da modalidade dietética e estado nutricional na hospitalização em crianças de até dois anos FC. Métodos: Estudo de caráter observacional analítico de coorte retrospectivo realizado no Hospital Infantil Joana de Gusmão. Os dados dos dois primeiros anos dos pacientes foram coletados por meio do prontuário, considerando as informações sobre o estado nutricional, através de peso e estatura, e número de internações. Crianças sem dados em prontuário dos dois primeiros anos de vida; com diagnóstico falso positivo; ou com tratamento descontinuado foram excluídas. O desfecho do estudo foi internação hospitalar por complicações associadas a FC ao longo dos primeiros 2 anos de vida. Foi aplicada a regressão logística, e os resultados expressos em odds ratio (OR) e intervalo de confiança 95% (IC 95%). Resultados: A amostra teve início com 49 participantes, na qual 3 foram descontinuados, resultando em 46 pacientes analisados/incluídos. Desses, 21 eram do sexo masculino (45,5%) e 25 do sexo feminino (54,4%), em maioria de mutação DF508 (48,9%) e insuficientes pancreáticos (97,8%). A mediana do tempo de aleitamento materno (AM) total foi de 6 [Intervalo Interquartil/QR 3; 11] meses e AM exclusivo foi de 2,26 [1,01; 4,59] meses. Além disso, 42 crianças tiveram sua alimentação suplementada por fórmula infantil (93,3%). As variáveis sexo, mutação e o tipo de modalidade dietética não estiveram, significativamente, associadas com o desfecho final de internação ao longo dos 2 primeiros anos de vida. No entanto, o aumento de peso/idade aos 3 e 24 meses foi fator protetor para hospitalização (OR 0,95 IC95% 0,90; 0,99; e OR 0,97 IC 95% 0,94; 0,99, respectivamente). Conclusão: O estado nutricional foi associado à hospitalização de pacientes com FC, uma vez que maiores valores de peso para a idade em 3 e 24 meses foram fatores protetores à hospitalização. Isso reflete a importância da avaliação nutricional adequada para o diagnóstico nutricional e manejo da desnutrição. Estudos futuros com populações maiores são necessários para solidificar esses achados, como até mesmo, consolidar outras associações que não foram significativas nessa coorte.

Introduction: Cystic fibrosis (CF) is a genetic disease that, from a mutation, triggers physiological changes responsible for hyperviscous mucous secretions that compromise different body systems. It may contribute to clinical manifestations such as increased Resting Energy Expenditure, pancreatic insufficiency, poor digestion or malabsorption and, consequently, secondary malnutrition. These clinical manifestations triggered by the singularities of the disease are related to impaired nutritional status. Thus, nutritional aspects have great relevance in CF outcomes, since the nutritional status of patients with CF directly influences the prognosis of the disease. Thus, once the influence of nutritional status on the clinical manifestations of the disease and the importance of adequate nutritional support have been evidenced, the impact of dietary modality and nutritional status during hospitalization in patients with CF requires larger and more well-designed studies. Objectives: Thus, this study aimed to evaluate the influence of dietary modality and nutritional status on hospitalization in children aged up to two years with CF. Methods: Analytical, observational, retrospective cohort study carried out at Hospital Infantil Joana de Gusmão. Data from the first two years of the patients were collected from the HIJG medical records, considering information on nutritional status, through weight and height, and number of hospitalizations. Children without data in the medical records of the first two years of life; with false positive diagnosis; or with discontinued treatment were excluded. D Study outcome was hospitalization for complications associated with CF during the first 2 years of life. Logistic regression was applied, and the results expressed as odds ratio (OR) and 95% confidence interval (95% CI). Results: The sample started with 49 participants, in which 3 were discontinued, resulting in 46 analyzed/included patients. Of these, 21 were male (45.5%) and 25 were female (54.4%), mostly with DF508 mutation (48.9%) and pancreatic insufficiency (97.8%). The median duration of total breastfeeding (BF) was 6 [Interquartile Range/QR 3; 11] months and exclusive BF was 2.26 [1.01; 4.59] months. In addition, 42 children had their food supplemented with infant formula (93.3%). The variables gender, mutation and type of diet were not significantly associated with the final outcome of hospitalization over the first 2 years of life. However, increased weight/age at 3 and 24 months was a protective factor for hospitalization (OR 0.95 95% CI 0.90; 0.99; and OR 0.97 95% CI 0.94; 0.99, respectively). Conclusion: Nutritional status was associated with hospitalization of CF patients, since higher weight-for-age values at 3 and 24 months were protective factors against hospitalization. This reflects the importance of adequate nutritional assessment for the nutritional diagnosis and management of malnutrition. Future studies with larger populations are needed to solidify these findings, and even consolidate other associations that were not significant in this cohort.