Uso do teste Bait-lamina como parâmetro complementar na avaliação de risco ambiental de agrotóxicos

Abstract

Os agrotóxicos, de maneira geral, podem ocasionar efeitos adversos quando aplicados. Portanto, é de suma importância conhecer os efeitos ecotoxicológicos da exposição de agrotóxicos na comunidade edáfica do solo. O fungicida Carbendazim (CBZ) foi utilizado como substância de referência em um ensaio de campo de ecotoxicologia. Foram avaliados os efeitos de três doses de CBZ (T1: 0,584; T2: 3,287 e T3: 18,26 L/ha) sobre a atividade alimentar da fauna do solo, empregando o teste de Bait-lamina (BLT) (ISO 18311) e a densidade de minhocas (ISO 11268-3). O objetivo foi avaliar a sensibilidade do BLT como um parâmetro complementar para a avaliação de risco ambiental de agrotóxicos, além de verificar se há relação entre a atividade alimentar da fauna do solo e o teste padrão de densidade de minhocas. O ensaio foi conduzido em um Nitossolo coberto por uma área de pastagem naturalizada sem histórico de aplicação de agrotóxicos nos últimos 10 anos. Os quatro tratamentos consistiram nas três doses (T1, T2 e T3) mais um controle (T0), que recebeu aplicação de água em vez de CBZ. Após 33 dias da aplicação de CBZ, observou-se um aumento significativo na atividade alimentar nas doses de 0,584 e 3,287 L/ha (T1 e T2) em comparação com o T0. Isso pode estar relacionado ao aumento da biomassa microbiana, à degradação do CBZ, à seleção de organismos mais resistentes à substância ou ao fenômeno de hormese. No entanto, a dose mais alta de CBZ (T3: 18,26 L/ha) parece levar a um efeito de saturação ou limitação no efeito dose-resposta da atividade alimentar. Após 188 dias da aplicação de CBZ, não foram observadas diferenças significativas na atividade alimentar entre os tratamentos (T1, T2 e T3) em comparação com o controle (T0), indicando que as doses aplicadas não tiveram um efeito significativo nas porcentagens de consumo das iscas do BLT. Nesse período pós-aplicação (188 dias), é provável que as moléculas de CBZ tenham sido degradadas a um nível de causa-efeito não detectável pelo BLT. Não foram encontradas diferenças estatísticas na densidade de minhocas entre T0, T1, T2 e T3, sugerindo que a redução da densidade não foi devida às doses de CBZ aplicadas. Os resultados sugerem que houve modificações na estrutura da comunidade da fauna do solo devido às alterações na atividade alimentar da fauna edáfica. No entanto, o BLT, por si só, não foi capaz de evidenciar essas alterações na composição taxonômica dos organismos do solo ou a desestruturação da comunidade. Além disso, não foi possível estabelecer uma relação entre a densidade de minhocas e o consumo das iscas do BLT, sugerindo que outros organismos do solo podem exercer maior influência no consumo das iscas em comparação ao grupo taxonômico das minhocas. Propõe-se que outras avaliações sejam realizadas em paralelo ao BLT para a identificação dos grupos e a possibilidade de detecção da desestruturação ecológica ocorrida na biota do solo devido à aplicação da substância de referência.