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Em março de 1870, a Guerra do Paraguai chegou ao fim e milhares de soldados, exaustos dos horrores da campanha militar, começaram o processo de regresso às suas famílias. Aguardavam ansiosamente pelo reencontro com suas mães, esposas e filhos, ansiando por um tratamento honroso e pela concretização das promessas feitas pelo governo imperial. Os debates públicos envolvendo o retorno dos veteranos levaram a uma nova batalha no pós-guerra, a do reconhecimento, reunindo a população, a imprensa e as administrações em torno das festas, numa série de comemorações que se espalharam pelo país. O presente trabalho visa explorar as especificidades envolvidas nas festividades cívicas de recepção aos batalhões de veteranos que desembarcaram na província de Santa Catarina, ao longo do primeiro semestre de 1870. Por meio da análise de jornais e de documentos oficiais, como registros de correspondências da Câmara Municipal de Desterro, ofícios da Presidência da província de Santa Catarina e outras correspondências enviadas/recebidas do Ministério da Guerra, além de diversos jornais que circularam pela capital, busca-se examinar como a cidade estruturou e vivenciou essa atmosfera festiva, seguindo um modelo festivo comum a outros eventos cívicos do século XIX, comparando com outras experiências receptivas ocorridas na Bahia, no Rio de Janeiro e no Piauí. Durante a pesquisa, também foram explorados outros aspectos dos tradicionais festejos cívicos e populares que ocorriam na capital de Santa Catarina, Nossa Senhora do Desterro, ligados por rituais pré-estabelecidos entre eles. Junto disso, é destacado o cotidiano da sociedade desterrense durante o seu processo de militarização, apresentando os efeitos colaterais do “teatro da guerra” na população local. Por fim, utiliza-se o monumento em homenagem aos oficiais catarinenses mortos na Guerra do Paraguai, de 1877, enquanto um ícone norteador para questionar a forma como esse evento histórico deveria ser lembrado na posteridade. Buscou-se explorar diferentes perspectivas e oferecer novos sentidos e significados que superassem a historiografia tradicionalmente patriótica, promovendo reflexões críticas e aprofundadas sobre as representações da guerra. Dessa forma, as recepções festivas e suas múltiplas representações artísticas e arquitetônicas celebravam a vitória brasileira no conflito, divulgavam valores favoráveis ao regime monárquico e fortaleciam o compromisso catarinense com a defesa da nação, mas também selecionavam quais memórias das batalhas e de seus envolvidos deveriam ficar marcadas para a história no pós-guerra. |
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