Investigação de bactérias resistentes aos antimicrobianos em ostras comercializadas em Florianópolis, SC.

Abstract

Ostras são moluscos bivalves reconhecidos como fonte de alimento e renda pela população mundial, especialmente em Santa Catarina. Em decorrência da poluição marinha com resíduos de medicamentos utilizados na aquicultura e em ambiente hospitalar, o habitat das ostras se tornou seletivo positivamente para bactérias multirresistentes. Devido ao fato de possuírem mecanismos de filtração essenciais para o funcionamento do seu metabolismo, esses bivalves podem acumular em si diversos microrganismos presentes na água. Buscando investigar a presença de bactérias resistentes aos antimicrobianos, designadas prioritárias pela Organização Mundial da Saúde e inferir a possível origem dessa contaminação, foram realizadas seis coletas em diferentes estabelecimentos comerciais de Florianópolis, totalizando-se 90 ostras. Após o processamento de diferentes partes do bivalve e filtração da água de lavagem externa da concha, as amostras foram enriquecidas em meio de cultura para o crescimento das bactérias em laboratório. Em seguida, os isolados foram submetidos aos testes de sensibilidade a diversos antimicrobianos por meio da técnica de disco-difusão e a testes fenotípicos para a identificação de enzimas de resistência do tipo ESBL, por meio de discos combinados com inibidores enzimáticos, e de carbapenemases, através do teste Blue Carba. Além disso, os isolados foram identificados quanto a espécie por meio de espectrometria de massas (MALDI-TOF). Fizeram-se presentes nesse estudo bactérias da lista de prioridade crítica da OMS para o desenvolvimento de novas drogas, como o Complexo Acinetobacter baumannii resistente aos carbapenêmicos e Escherichia coli produtora de ESBL, mas também outras espécies potencialmente causadoras de doenças como Klebsiella pneumoniae, Citrobacter freundii e Pseudomonas mosselii, com resistência a vários dos antimicrobianos analisados. Os resultados confirmam a hipótese de que as ostras atuam como reservatório de bactérias resistentes, indicando a contaminação no ambiente marinho e no manuseio comercial, tornando-se uma fonte de risco aos consumidores pela possibilidade de infecção por microrganismos patogênicos, somado ao fato de que culturalmente são consumidas cruas.

Oysters are bivalve mollusks recognized as a source of food and income by the global population, especially in Santa Catarina. Due to marine pollution with residues of medications used in aquaculture and hospital environments, the oyster habitat has become positively selective for multidrug-resistant bacteria. As a result of having essential filtration mechanisms for their metabolism, these bivalves can accumulate various microorganisms present in the water. In order to investigate the presence of antimicrobial-resistant bacteria designated as priority by the World Health Organization and infer the possible origin of this contamination, six collections were carried out at different commercial establishments in Florianópolis, totalizing 90 oysters. After processing different parts of the bivalve and filtering the external shell washing water, the samples were enriched in culture medium for bacterial growth in the laboratory. Subsequently, the isolates were subjected to sensitivity tests to various antimicrobials using the disk-diffusion technique, and to phenotypic tests for the identification of ESBL-type resistance enzymes using disks combined with enzyme inhibitors, and carbapenemases using the Blue Carba test. Additionally, the isolates were identified at the species level using mass spectrometry (MALDI-TOF). The bacteria included in this study were those from the WHO critical priority list for the development of new drugs, such as carbapenem-resistant Acinetobacter baumannii complex and ESBL-producing Escherichia coli, as well as other potential disease-causing species such as Klebsiella pneumoniae, Citrobacter freundii, and Pseudomonas mosselii, with resistance to several of the analyzed antimicrobials. The results confirm the hypothesis that oysters act as reservoirs of resistant bacteria, indicating contamination in the marine environment and commercial handling, becoming a source of risk to consumers due to the possibility of infection by pathogenic microorganisms, especially considering that they are traditionally consumed raw.