(Trans)trajetórias de vida e de escolarização de travestis e transexuais no contexto da educação de jovens e adultos em Santa Catarina

Abstract

Esta tese faz parte dos estudos e pesquisas realizados no âmbito do Programa de Educação da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGE/UFSC), na linha de pesquisa Sujeitos, Processos Educativos e Docência (SUPED). O aprofundamento teórico, metodológico e prático está atravessado por minha inserção no Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação de Jovens e Adultos (EPEJA) tanto quanto por minhas interlocuções com movimentos sociais de travestis e transexuais e com as leituras que realizei, a partir das quais procuro fazer referência às pensadoras travestis e transexuais. Nesse devir existencial, aproximo-me do pensamento decolonial como teoria e prática política pedagógica insurgente de re-existir e sobre-viver. Logo, busco problematizar as (trans)trajetórias de vida e escolarização com base nas experiências vividas como produção de conhecimento. Diante do exposto, situo como problema de investigação: quais os significados que se expressam na vida cotidiana de travestis e transexuais com base em suas experiências vividas sobre a escolarização, particularmente na modalidade da Educação de Jovens e Adultos? O objetivo principal é compreender os significados na vida cotidiana de travestis e transexuais com base em suas experiências sobre a escolarização na Educação de Jovens e Adultos. Trata-se de uma pesquisa de perspectiva qualitativa, com foco nas análises de contextos expressos nas produções escritas. Como instrumento de coleta de dados, foram utilizados um questionário sociocultural identitário e a escrita de uma carta-corpo produzida pelas quatro autoras- participantes. Na pesquisa, é debatida de que forma a cisheteronormativa é utilizada como chave de compreensão para pensar o (CIS)tema normativo moderno/colonial de gênero, que se funda a partir da matriz colonial de poder, tendo na produção do saber, viver, sentir e existir a reprodução da lógica binária homem/mulher como um instrumento de dominação, exploração, controle e regulação de corporalidades, identidades e subjetividades. Ao mesmo tempo que controla e nega tais corporalidades e identidades, inviabiliza e silencia as pluridiversidades de vivências, experiências, saberes e outros. Os resultados da tese indicam que há pessoas que (re)existem e (sobre)vivem a esse (CIS)tema. As cartas-corpo permitem apontar que as experiências vividas e as vozes insurgentes constroem suas ?cosmopercepções? de gênero e de educação. As autoras-participantes narram suas existências, práticas e estratégias pedagógicas que tiveram que enfrentar para conseguirem ser mais para si, anunciando e denunciando o (CIS)tema de subordinação, inferiorização e indiferença que precisaram enfrentar na escola e na vida cotidiana, buscando estratégias de transgressão, de resistência e de empoderamento.

Abstract: This work is part of the studies and research carried out within the Educational Program of the Federal University of Santa Catarina (PPGE/UFSC), in the research line Subjects, Educational Processes and Instruction (SUPED). The theoretical, methodological and practical deepening is crossed by my involvement in the Group for Studies and Research in Youth and Adult Education (EPEJA), as well as by my conversations with social movements of transvestites and transsexuals, and by the readings I have done, trying to relate to transvestite and transsexual thinkers. In this existential becoming, I approach decolonial thought as an insurgent pedagogical political theory and practice of re-existence and survival. In this way, I seek to problematize the (trans)trajectories of life and schooling based on the lived experiences of transvestites and transsexuals as knowledge production. In light of the above, I pose the following research problem: what meanings are expressed in the daily lives of transvestites and transsexuals based on their lived experiences of schooling, particularly in the context of youth and adult education? The main objective is to understand the meanings in the daily lives of transvestites and transsexuals through their experiences with schooling in youth and adult education. It is a research from the qualitative perspective that focuses on the analysis of the contexts expressed in the written productions. The instruments used for data collection were a sociocultural identity questionnaire and a body letter written by the four participating authors. The research discusses how the cis-hetero-normative is used as a key to understanding to think about the modern/colonial normative (CIS)tem of gender that is based on the colonial matrix of power and allows the reproduction of the binary man/woman logic live, feel and exist as an instrument of domination, exploitation, control and regulation of physicalities, identities, and subjectivities in knowledge production. At the same time, it controls and denies such corporealities and identities, it renders impracticable and silences the pluridiversity of experiences, knowledge, and others. The dissertation findings show that there are people who resist/exist, live/outlive this CIStem. The body-letters allow us to point out that lived experiences and rebellious voices form their ?cosmoperceptions? of gender and education. Participating authors recount their existences, practices, and pedagogical strategies they have had to confront in order to be more for themselves, announcing and denouncing the CIStem of subordination, inferiority, and indifference they face in school and everyday life, and seeking strategies of transgression, resistance, and empowerment.