Title: | Os ditos e não ditos das violências : práticas e discursos sobre as crianças e suas infâncias no Brasil |
Author: | Sousa, Letícia Teles de |
Abstract: |
Interessada em problematizar como as tramas das violências produzem efeitos na experiência das crianças brasileiras, transitei pelas práticas discursivas presentes nos dispositivos que se capilarizam na experiência das infâncias e implicam ressonâncias nos modos de subjetivar. A partir das provocações cartográficas e do aporte teórico baseados em autores pós-estruturalistas, como Gilles Deleuze e Félix Guattari, mapeei um conjunto de produções cinematográficas, fotográficas, jornalísticas, literárias e artísticas que possibilitasse tecer um plano estético que problematizasse tais práticas na intercambialidade dos elementos históricos, políticos, econômicos, estéticos e culturais do plano social brasileiro. Diante dos materiais encontrados, transitei pelas linhas que costuram a história das crianças no Brasil contemporâneo com a intenção de habitar os jogos de força e poder que operam tanto molaridades como molecularidades para as infâncias. Dessa forma, as práticas discursivas denotam as regularidades históricas, políticas e culturais que perpassam as disputas de saber e poder que se desenrolam nos dispositivos, ou seja, as lógicas e racionalidades que sedimentam os modos de relação e de subjetivação das crianças. Essas lógicas retratam os domínios de verdade compartilhados pelas diversas áreas do conhecimento que vem contornando uma imagem universal de criança e que legitimam a hegemonia do paradigma moderno da razão. É importante destacar que, no plano social brasileiro, a história das crianças é marcada pela coexistência de molaridades e molecularidades, ou seja, por movimentos que apresentam as contradições e resistências criadas. Por linhas que submetem as crianças em racionalidades maturacionais, desenvolvimentistas, tutelares e idealizadoras da infância como uma etapa já determinada e por aquelas que deflagram o devir-minoritário como potencializador das resistências infantis. Nisso, o plano estético habitado mobilizou outras análises sobre a interface das violências nas infâncias contemporâneas promovendo análises sobre o processo de entrada das crianças no plano brasileiro, os movimentos que apontam as denúncias às violências que estão entranhadas na rede social, econômica, jurídica e cultural brasileira; as lógicas adultocêntricas, coloniais, neoliberais, e racistas que reverberam em seus modos de subjetivar e, sobretudo, as potências infantis que se desdobram pelas brechas. Nesse trânsito, encontrei na perspectiva de Ética em Deleuze uma pista para arejar os modos de encontro estabelecidos pelos dispositivos de atenção às infâncias brasileiras, tendo como proposta uma análise que aciona questões sobre aquilo que potencializa ou despotencializa a existência. Isso significa dizer que os próprios dispositivos podem questionar as suas práticas discursivas para que reconheçam como os seus modos de relação se sustentam em lógicas que pretendem universalizar as crianças e as suas infâncias. Assim, a provocação deleuziana é propositiva de um desafiador exercício de descentramento e ação para as diversas áreas do conhecimento que se relacionam com as crianças e suas infâncias no Brasil contemporâneo, para acionar devires ativadores de outras estéticas de existência. Abstract: Interested in problematizing how the plots of violence produce effects on the experience of Brazilian children, I transited through the discursive practices present in the devices that capillarize in the childhood experience and imply resonances in the modes of subjectivation. From cartographic provocations and theoretical support based on post-structuralist authors, such as Gilles Deleuze and Félix Guattari, I mapped a set of cinematographic, photographic, journalistic, literary and artistic productions that would make it possible to weave an aesthetic plan that would problematize such practices in the interchangeability of historical, political, economic, aesthetic and cultural elements of the Brazilian social plan. Faced with the materials found, I walked along the lines that weave the history of children in contemporary Brazil with the intention of inhabiting the games of strength and power that operate both molarities and molecularities for childhood. In this way, the discursive practices denote the historical, political and cultural regularities that permeate the disputes of knowledge and power that unfold in the devices, that is, the logics and rationalities that sediment the children's modes of relationship and subjectivation. These logics portray the domains of truth shared by the various areas of knowledge that have been circumventing a universal image of children and that legitimize the hegemony of the modern paradigm of reason. It is important to emphasize that, in the Brazilian social sphere, the history of children is marked by the coexistence of molarities and molecularities, that is, by movements that present the contradictions and resistance created. Along lines that subject children to maturational, developmental, tutelary and idealizing rationales of childhood as an already determined stage and also along those lines that trigger the becoming-minority as a potentiator of children's resistance. In this regard, the inhabited aesthetic plan mobilized other analyzes on the interface of violence in contemporary childhood, promoting analyzes on the process of entry of children into the Brazilian plan, the movements that point to the denunciations of violence that are embedded in the social, economic, legal and cultural network. Brazilian; the adult-centric, colonial, neoliberal, and racist logics that reverberate in their ways of subjectivating and, above all, the infantile powers that unfold through the gaps. In this transit, I found in the perspective of Ethics in Deleuze a clue to air the modes of encounter established by the devices of attention to Brazilian childhoods, having as a proposal an analysis that triggers questions about what enhances or de-potentializes existence. This means that the devices themselves can question their discursive practices so that they recognize how their modes of relationship are based on logics that intend to universalize children and their childhoods. Thus, Deleuzian provocation proposes a challenging exercise of decentering and action for the different areas of knowledge that are related to children and their childhoods in contemporary Brazil, in order to activate becomings that activate other aesthetics of existence. |
Description: | Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Florianópolis, 2023. |
URI: | https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/249857 |
Date: | 2023 |
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PPSI1047-D.pdf | 4.060Mb |
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