Atributos morfológicos do tecido urbano: centralidade em cidades catarinenses

Abstract

Nas últimas décadas, as cidades vêm experimentando profundas transformações tanto na configuração como no uso cotidiano dos espaços públicos. Tais modificações, em muitos casos, produziram territorialidades descontínuas e dispersas, ocasionando problemáticas que vão desde baixas densidades, crescente periferização e mobilidade urbana comprometida, até o abandono gradativo de determinadas porções do tecido urbano. Os centros históricos são o exemplo mais claro deste conflito. Em alguns ainda é forte a sua atratividade social, reunindo grande quantidade de pessoas, e sua atratividade econômica, por meio de uma expressiva diversidade de usos, entretanto em outros sua importância para a cidade parece ter se perdido ao longo do tempo, materializando descaso e depredação dos edifícios e dos lugares historicamente consolidados. Mas, afinal, por que alguns centros estão se tornando espaços socialmente pouco apropriados? Como as mudanças do espaço urbano da cidade têm propiciado transformações nos centros históricos e no surgimento de outros ?centros? com notória importância? Propõe-se responder a estas questões trazendo o estudo da centralidade urbana como tema principal. Haja vista que centralidade é um tema bastante discutido por diversas áreas do conhecimento, as quais apresentam como característica principal a consolidação de um espaço decisório, de forte concentração de serviços e fluxos de todos os níveis, protagonista da dinâmica citadina. Autores como Flavio Villaça (2001) e Milton Santos (1981) já vêm há décadas, discutindo a importância e os efeitos da centralidade na estrutura das cidades brasileiras. Nosso estudo, no entanto, aproxima-se do entendimento das mudanças configuracionais dos espaços urbanos sobre a centralidade, buscando estabelecer uma correlação entre forma espacial e apropriação social e, por isso, traz como referência as pesquisas de Holanda (2002), Hillier e Hanson (1984). Neste trabalho, analisaram-se as cidades, do estado de Santa Catarina, situadas no sul do Brasil, diversificadas em razão do sítio físico, das etnias colonizadoras e dos diferentes processos de crescimento. Como recorte, trouxeram-se as 10 cidades mais populosas do estado, com o objetivo principal de investigar transformações configuracionais das centralidades. Nosso método apresenta duas etapas: a primeira busca caracterizar as diversas centralidades das cidades estudadas, classificando-as como formais, funcionais e simbólicas. A segunda etapa apresenta correlações entre forma urbana, áreas históricas e funcionais, denotando o quanto estes lugares são dependentes da configuração espacial. Em termos formais, estudou-se a configuração do tecido urbano, identificando lugares de fácil acessibilidade espacial. A centralidade funcional é identificada por meio da localização de áreas com diversidade de usos do solo e da intensa apropriação cotidiana. Já a centralidade simbólica é evidenciada a partir do núcleo histórico original, local de forte significado. Apresentou-se a teoria da Sintaxe Espacial como aporte teórico para avaliar a correlação entre forma urbana, o simbolismo e o uso do solo. Os resultados encontrados apontam a correlação da configuração espacial com a rede de centralidades nas cidades analisadas. Diferentes centralidades tendem a se aproximar e até se sobrepor em tecidos urbanos mais integrados, enquanto em traçados mais segregados as centralidades se situam de modo mais descontínuo e disperso, configurando núcleos com diferentes significados no contexto do tecido urbano.

Abstract: In recent decades, cities have experienced profound transformations in both the configuration and the daily use of public spaces. Such modifications, in many cases, have produced discontinuous and dispersed territorialities, causing problems ranging from low densities, growing peripheralization and compromised urban mobility, to the gradual abandonment of certain portions of the urban fabric. The historic centers are the clearest example of this conflict. Some of them still have a strong social attractiveness, bringing together a large number of people, and their economic attractiveness, through an expressive diversity of uses, while in others their importance for the city seems to have been lost over time, materializing neglect and depredation of buildings and historically consolidated places. But, after all, why are some centers becoming socially unappropriated spaces? How have the changes in the city's urban space caused transformations in the historic centers and the emergence of other centers with notorious importance? We propose to answer these questions by bringing the study of urban centrality as the main theme. Since centrality is a theme widely discussed by several areas of knowledge, which present as main characteristic the consolidation of a decisive space, of strong concentration of services and flows of all levels, protagonist of the city dynamics. Authors such as Flavio Villaça (2001) and Milton Santos (1981) have been discussing for decades the importance and the effects of centrality in the structure of Brazilian cities. Our study, however, approaches the understanding of the configurational changes of urban spaces on centrality, seeking to establish a correlation between spatial form and social appropriation and, therefore, brings as reference the researches of Holland (2002), Hillier and Hanson (1984). In this work, the cities of the state of Santa Catarina, located in the south of Brazil, diversified due to the physical site, the colonizing ethnicities and the different growth processes, were analyzed. As a cutout, we brought the 10 most populous cities of the state, with the main objective of investigating configurational transformations of the centralities. Our method presents two stages: the first seeks to characterize the diverse centralities of the cities studied, classifying them as formal, functional and symbolic. The second stage presents correlations between urban form, historical and functional areas, denoting how dependent these places are on spatial configuration. In formal terms, the configuration of the urban fabric is studied, identifying places of easy spatial accessibility. The functional centrality is identified through the location of areas with a diversity of land uses and intense daily appropriation. The symbolic centrality is evidenced by the original historical core, a place of strong significance. The Spatial Syntax theory was presented as a theoretical contribution to evaluate the correlation between urban form, symbolism and land use. The results found point to the correlation of spatial configuration with the network of centralities in the cities analyzed. Different centralities tend to come closer together and even overlap in more integrated urban fabrics, while in more segregated layouts the centralities are located in a more discontinuous and disperse way, configuring centers with different meanings in the context of the urban fabric.