Vivência de sofrimento moral no trabalho por trabalhadoras de equipes multiprofissionais em atenção domiciliar do SUS

Abstract

Esta pesquisa teve como objetivo geral a compreender a vivência de sofrimento moral frente aos problemas éticos encontrados no cotidiano de trabalho de trabalhadores em Equipes Multiprofissionais de Atenção Domiciliar (EMAD) do SUS, buscando identificar os principais problemas éticos e como se apresentam no cotidiano de trabalho em EMAD; analisar como a subjetividade, a saúde e a vida dos trabalhadores são afetadas pela vivência do sofrimento moral; e conhecer as estratégias de resistência e enfrentamento frente ao sofrimento moral utilizadas pelos trabalhadores. A pesquisa teve natureza qualitativa com design exploratório e descritivo, com coleta de dados primários por meio de entrevistas narrativas com 11 trabalhadoras de cinco EMAD localizadas nos Estados de Santa Catarina e São Paulo. Foi realizada análise descritiva e de conteúdo com apoio do software Atlas Ti. A pesquisa contou com financiamento do Ministério da Saúde pertencendo ao macroprojeto interinstitucional de Avaliação do Programa Multicêntrico de Qualificação Profissional em Atenção Domiciliar para o SUS ? educação a distância. Os resultados apontam para a existência de Problemas Éticos na organização e nas Relações Interprofissionais de Trabalho decorrem principalmente da precarização advinda com a privatização dos serviços de saúde e pela predominância do modelo hegemônico médico neoliberal, tanto na formação dos profissionais, como nas relações interprofissionais, organização e gestão dos SAD. Na categoria de Vivências de Sofrimento Moral, o sofrimento foi percebido pela expressão de sentimentos desagradáveis e indesejáveis, como frustração, impotência, tristeza, angústia, medo e culpa. Neste processo vivencial sua repetição e continuidade implicam em repercussões sobre a saúde mental e no viver do trabalhador. Para fazer frente à esta vivência de sofrimento moral, as trabalhadoras utilizam estratégias individuais ou coletivas de resistência ou enfrentamento. Concluiu-se que o sofrimento moral no trabalho é resultado de um processo contínuo, desencadeado por um estado afetivo-emocional de angústia e sofrimento diante de um conflito moral do trabalhador decorrente dos problemas éticos vivenciados no trabalho cotidiano. Faz-se urgente a reorganização dos modos de gestão, organização e produção do cuidado na AD, ressignificando o potencial positivo de satisfação e prazer no trabalho. É necessário realinhar com as políticas de educação permanente e humanização com a valorização do trabalhador, reforçando uma formação ética no trabalho.

Abstract: This research had the general objective of understanding the experience of moral distress in the face of ethical problems encountered in the daily work of workers in Multiprofessional Home Care Teams (EMAD) of the SUS, seeking to identify the main ethical problems and how they present themselves in the daily work in EMAD; analyze how the subjectivity, health and life of workers are affected by the experience of moral distress; and to know the resistance and coping strategies used by workers in the face of moral distress. The research had a qualitative nature with an exploratory and descriptive design, with primary data collection through narrative interviews with 11 workers from five EMAD located in the States of Santa Catarina and São Paulo. Descriptive and content analysis was performed with the support of Atlas Ti software. The research was financed by the Ministry of Health belonging to the interinstitutional macroproject of Evaluation of the Multicenter Program of Professional Qualification in Home Care for the SUS ? distance education. The results point to the existence of Ethical Problems in the organization and in Interprofessional Work Relations, mainly due to the precariousness arising from the privatization of health services and the predominance of the hegemonic neoliberal medical model, both in the training of professionals, as in interprofessional relations, organization and management of SADs. In the category of Experiences of Moral Suffering, suffering was perceived by the expression of unpleasant and undesirable feelings, such as frustration, impotence, sadness, anguish, fear and guilt. In this experiential process, its repetition and continuity imply repercussions on the worker's mental health and life. To face this experience of moral suffering, the workers use individual or collective resistance or coping strategies. It was concluded that moral distress at work is the result of a continuous process, triggered by an affective-emotional state of anguish and suffering in the face of a worker's moral conflict arising from ethical problems experienced in daily work. It is urgent to reorganize the modes of management, organization and production of care in HC, re-signifying the positive potential of satisfaction and pleasure at work. It is necessary to realign with the policies of permanent education and humanization with the valorization of the worker, reinforcing an ethical formation in the work.