Abstract:
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Introdução: Até o presente, apenas três revisões da literatura avaliaram o
impacto de intervenções na redução de iniquidades raciais em saúde geral;
nenhuma delas considerou iniciativas de promoção da equidade racial na
saúde bucal. Assim, esta revisão se propõe a responder as seguintes três
perguntas de pesquisa: Existem intervenções para mitigar as iniquidades
raciais em saúde bucal ou melhorar a saúde bucal de grupos racialmente
marginalizados? Em caso afirmativo, quão bem-sucedidas foram tais
intervenções na promoção da equidade racial em saúde bucal? As conclusões
das revisões anteriores se alteram ao levar em consideração os achados das
intervenções em saúde bucal?
Métodos: Os estudos revisados implementaram intervenções para reduzir as
iniquidades raciais ou promover a saúde bucal de grupos racial ou
culturalmente oprimidos. Ensaios clínicos randomizados, experimentos
naturais, estudos antes-e-depois e investigações observacionais que emulam
experimentos, avaliando interações entre raça e ações potencialmente
benéficas para a saúde bucal, foram selecionados para a análise desta
revisão. Desfechos de saúde bucal avaliados clinicamente ou por meio de
autorrelato foram considerados em estudos indexados no MEDLINE, LILACS,
PsycInfo, SciELO, Web of Science, Scopus e Embase, considerando seus
registros mais antigos até outubro de 2022.Tanto a exclusão dos artigos
duplicados quanto a seleção dos trabalhos foram realizadas na plataforma
Rayyan, por meio da leitura de títulos e resumos. No Covidence, foram
realizadas a leitura dos trabalhos na íntegra e extraídos os dados dos estudos
elegíveis. As pesquisas originais foram descritas quanto a suas características,
incluindo delineamento empregado, local de realização, objetivos, faixa etária e
caracterização racial dos participantes, além das conclusões dos próprios
autores sobre a efetividade das intervenções avaliadas. As frequências
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absolutas e relativas dessas características foram apresentadas em tabelas de
contingência.
Resultados: No total, 61 artigos foram considerados elegíveis. Em sua
maioria, trata-se de publicações de 2012 a 2022, originadas na Austrália e nos
Estados Unidos da América, com foco em medidas de educação em saúde
bucal e na administração de flúor através de diferentes veículos, por exemplo,
verniz e água de abastecimento fluoretados. As intervenções foram
destinadas, em sua maioria, a uma população com até 12 anos de idade e
ficaram restritas a algum grupo racialmente marginalizado, evitando
estabelecer comparações com grupos dominantes. Conforme as conclusões
dos próprios autores, houve redução das iniquidades raciais em saúde bucal
em 10 (58,8%) dos 17 estudos que compararam dois ou mais grupos raciais
entre si. Houve melhora das condições de saúde bucal em 39 (88,6%) dos 44
estudos que avaliaram o efeito da intervenção em um único grupo racial.
Conclusão: Apesar de não terem sido consideradas em revisões anteriores da
literatura, podemos afirmar há uma quantidade expressiva (n=61) de estudos
avaliando o impacto de intervenções sobre as iniquidades raciais em saúde
bucal ou melhoria das condições de saúde bucal de grupos racialmente
marginalizados. Análises preliminares, baseadas exclusivamente nas
conclusões dos autores dos estudos originais, sugerem que tais intervenções
são frequentemente efetivas na redução das iniquidades ou melhoria da saúde
bucal das populações investigadas. Em conjunto, as intervenções analisadas
sugerem que há meios de reduzir as iniquidades raciais em saúde bucal,
contrariando os dados das revisões anteriores, focadas em saúde geral. |