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Vinte anos após a Semana de Arte Moderna, Mário de Andrade apresenta “O movimento modernista”, quando, com voz mais madura, reconhece os erros que o grupo de 22 cometeu no projeto, levantando uma reflexão que demonstra um sentimento misto de pertencimento e afastamento, elaborando sobre a importância do que foi, de fato, a semana, sem desmerecer seus feitos, mas com consciência de não ter vivido inteiramente suas propostas. No texto, demonstra insatisfação pelo absenteísmo que sua trajetória artística teria assumido em relação às manifestações engajadas que se organizavam então.
Considerando a conferência como Alfredo Bosi (2004, p. 296) um discurso em que há oscilação entre o modo autobiográfico e depoimento, pode-se afirmar que o trecho emula tanto um sentimento de inclusão naquela comunidade formada pelos “modernistas”, quanto um de exclusão pela distância que teriam guardado daquela formada pela multidão. Se admite em 42, não ter tomado parte dessa multidão, ainda em meados dos anos 20, Andrade havia defendido necessário pertencimento a outra comunidade, a nacional.
A importância que Mário dava a tal sentimento de união e pertencimento pode ser vista inclusive através da busca para diminuir o espaço entre língua escrita e língua falada na sua estética artística, conciliando variações do português brasileiro desprestigiadas em suas obras e até nas críticas literárias que publicava na mídia impressa.
É a partir da circulação desses textos que se pode observar adesões ou recusas de grupos de escritores a certas ideias ou projetos literários. Assim, tanto as questões políticas que envolvem a escolha do assunto sobre o qual escrever e os diálogos que se estabelecem com os contemporâneos compõem o jogo de força presente na sociabilidade das comunidades literárias.
O projeto pretende relacionar a crítica literária produzida por Mário de Andrade voltada ao gênero de conto e publicada em jornais no decorrer da segunda metade dos anos 1930 até meados de 1940. Além dos textos disponíveis na Hemeroteca Digital, a pesquisa utilizará comentários críticos acerca de contos registrados por Mário na esfera pessoal, tendo como fonte as cartas trocadas entre ele e Fernando Sabino.
Como objetivo geral, busca refletir sobre o diálogo intertextual na crítica de Mário de Andrade com posições e formulações críticas que, por vezes, são consideradas divergentes pelo próprio escritor, proporcionando o estudo da complexidade envolvida no trabalho de reconstituição parcial das relações da sociabilidade literária. Como objetivo específico, busca divulgar os textos críticos que após digitalizados, serão incorporados à Biblioteca Digital de Literatura de Língua Portuguesa, mantida pelo Núcleo de Pesquisas em Informática, Literatura e Linguística. Além disso, ao arquitetar uma teia de diálogos da crítica literária brasileira a partir dos artigos do autor, busca contribuir para o estudo da história da sociabilidade literária no final dos anos de 1930 e início da década de 1940. |
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