Abstract:
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Historicamente, a dinâmica ambiental dos campos de altitude do Planalto Serrano Catarinense, envolveu a presença de grandes herbívoros, antes representados pela megafauna e hoje pelo gado. Além disso, a dinâmica inclui o manejo com fogo, antes feito por povos indígenas locais e hoje pelos proprietários de terra. Nos últimos séculos, muitas áreas de campos de altitude da região passaram a receber um manejo que envolve a criação de gado bovino e o uso do fogo para manter os campos propícios à criação de gado, reduzindo a quantidade de arbustos e outras espécies lenhosas, e promovendo a vegetação herbácea. Este tipo de manejo é aqui referido como manejo tradicional. Estudos recentes sugerem que, na ausência deste tipo de manejo tradicional, os campos ficam suscetíveis à substituição por vegetação lenhosa, além de vulneráveis a incêndios catastróficos resultantes de matéria orgânica morta acumulada. Porém, há ainda lacunas sobre qual tipo de distúrbio (fogo, pastejo ou ambos) de fato mantém os campos e que impactos eles apresentam sobre a diversidade de plantas típicas campestres (=herbáceas), bem como da incorporação do papel de distúrbios em estratégias de conservação para os campos de altitude do Planalto Serrano Catarinense. Aqui tivemos como objetivo avaliar a composição florística campestre dos campos de altitude dentro do Parque Nacional de São Joaquim, localizado no Planalto Serrano Catarinense, a fim de realizar o levantamento de vegetação anterior à implementação de tratamentos experimentais onde serão aplicados os dois tipos de distúrbios, sua combinação, bem como controles. O levantamento aqui relatado e o experimento que se seguirá estão sendo realizados no âmbito do PELD-BISC (Programa de Pesquisas Ecológica de Longa Duração sobre a Biodiversidade de Santa Catarina). O Parque Nacional de São Joaquim é uma unidade de conservação que pratica um manejo distinto daquele aplicado em áreas privadas adjacentes, pois previne ou impede queimadas e a presença de gado. Devido à implementação futura do experimento, foram selecionadas 7 áreas que foram cercadas e isoladas do resto do Parque. Cada área compõem um futuro bloco experimental e é subdividido em 4 parcelas de 70 x 70 m, que receberão futuramente os tratamentos experimentais ou controles. Em cada parcela, foi realizado o levantamento da vegetação herbácea em 12 quadrados de 1 x 1 m, com disposição sistemática e permanente, totalizando 336 quadrados e 336 m² de área amostrada. A partir dos dados coletados de vegetação, foi compilada uma lista de espécies com suas respectivas coberturas totais para representar a abundância relativa de cada uma das espécies. No total foram encontradas 143 espécies, distribuídas em 43 famílias, sendo as mais abundantes Poaceae, Asteraceae e Cyperaceae. As espécies com maior cobertura relativa foram Andropogon lateralis, com cobertura acumulada de 15.3%, Axonopus sufulttus com 13.3% e Digitaria phaenotrix com 10.5%. Os dados de riqueza e composição de espécies serão posteriormente relacionados com as variáveis ambientais, e servirão como uma descrição do ponto de partida para acompanhar a trajetória da vegetação sob os tratamentos experimentais que serão estabelecidos. |