Abstract:
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O presente trabalho diz respeito a uma pesquisa de iniciação científica no projeto guarda-chuva intitulado “O Corpo, o Dizer e a Forma na Contemporaneidade: interfaces da psicanálise com outros campos”, na linha de pesquisa número 3, Leituras sobre Corpo e Cultura orientada pela professora Ana Lúcia Mandelli de Marsillac, junto ao Laboratório de Psicanálise, Processos Criativos e Interações Políticas (LAPCIP), na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Desde o surgimento da psicanálise, a partir da escuta das histéricas por Freud, o corpo tem se apresentado como um furo no saber. Esse que é suporte do Outro é, fundamentalmente, permeado pelo discurso, o qual permite a criação do inconsciente e da vida psíquica. No caso do sujeito negro, essa inscrição subjetiva é atravessada pelos ideais de branquitude ainda dominantes, complexificando os aportes da psicanálise. Desse modo, o presente trabalho visa analisar, por meio da revisão integrativa bibliográfica e do método da psicanálise (leitura flutuante e relação transferencial com o tema) as interfaces entre o corpo negro e o saber psicanalítico. Em primeira busca, demostrou que a discussão acerca da construção dos processos subjetivos dos sujeitos negros vem ganhando força nos últimos anos. Contudo, por se tratar de uma pesquisa de iniciação científica, considerou-se apenas artigos de livre acesso dos últimos cinco anos, ou seja de 2018 a 2022. Após essa seleção, utilizando a leitura do resumo e título da publicação, excluiu-se aqueles que não possuíam como foco da discussão nosso tema norteador: o corpo negro, o que se limitou a análise do presente trabalho em 03 obras, que partir daí foram lidos e que convocaram toda uma cadeia de outras leituras. No que se refere ao trio de artigos trabalhados, o que se suscitou foi uma aproximação com a teoria freudolacaniana, pensando o corpo negro a partir das instancias do Real, Simbólico e Imaginário, tendo maior ênfase nas dimensões simbólicas e imaginárias. Analisou-se as repercussões psíquicas geradas na relação do corpo negro com o laço social, sendo esse advindo de um processo social, cultural e histórico. Assim, coloca-se em questão, no contexto brasileiro, a raça enquanto posição subjetiva. A partir da ideia de imagem, esses corpos vão ganhando cor e forma, o que nos leva a debater sobre a invisibilidade deles nesse campo teórico e a pertinência dos conhecimentos da psicanálise a essa parcela da população. Abre-se uma brecha para pensarmos sobre a função política da formação e da prática profissional do analista e do impacto da psicanálise no laço social, na composição da cultura, que insiste em recalcar seu próprio sintoma social: o racismo. |