Abstract:
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Passados pouco mais de quatro meses do final da pandemia da Covid-19 (Corona virus disease), pouco se sabe sobre suas consequências, especialmente entre indivíduos que foram tratados em unidades de terapia intensiva (UTI’s). O objetivo do estudo foi verificar as mudanças nos comportamentos de risco e na qualidade de vida relacionada à saúde após a hospitalização em UTI’s em pacientes internados por Covid-19. Especificamente, investigou-se os fatores associados às mudanças nos diferentes tipos de comportamento sedentário nesta população. Este foi um estudo transversal realizado com pacientes internados por Covid-19 em UTI’s em um hospital de referência em Florianópolis, Santa Catarina. Foram realizadas entrevistas telefônicas e consultas a prontuários médicos, de junho de 2022 a julho de 2023. Os desfechos foram os comportamentos de risco (comportamento sedentário, inatividade física, consumo de álcool e de alimentos ultraprocessados e tabagismo) e a qualidade de vida relacionada à saúde. Mudanças nos desfechos foram autorrelatadas em questões com opções de resposta relativas à manutenção, aumento (ou melhora) e diminuição (ou piora) dos indicadores. Variáveis sociodemográficas e relacionadas à saúde foram coletadas como exposições. Na análise de dados, empregou-se a regressão logística multinomial ajustada, com resultados expressos em razões de odds (RO) e intervalos de confiança de 95% (IC95%). Dos 105 sujeitos entrevistados, 51,4% eram homens e a média de idade foi 49,0 anos (±13,0). Após a hospitalização, os aumentos mais expressivos foram observados no tempo de comportamento sedentário ao usar o celular e assistir televisão (aumento em 47,6% e 32,4% da amostra, respectivamente), bem como na inatividade física nos domínios do lazer, deslocamento, domicílio e trabalho (aumento em 49,0%, 34,8%, 32,7% e 29,4% da amostra, respectivamente). A maioria dos entrevistados relatou piora da qualidade de vida geral (59,8%), bem como de seus componentes físico (64,1%) e mental (57,3%). Após a hospitalização, o aumento do tempo de televisão esteve associado às mulheres (RO: 2,74; IC95%: 1,05; 7,16). Aqueles sujeitos com maior escolaridade apresentaram aumentaram o tempo de uso de computador (RO: 1,55; IC95%:1,12; 2,13) e de celular (RO: 1,16; IC95%:1,01; 1,33). Adicionalmente, sujeitos fisicamente inativos no lazer apresentaram menor aumento do tempo de uso de celular (RO: 0,13; IC95%: 0,03; 0,60) que seus pares. Já o aumento do tempo sentado no trabalho foi menor entre aqueles com melhor qualidade de vida em seu componente mental (RO: 0,96; IC95%:0,93; 1,00). Conclui-se que, após a hospitalização em UTI’s, os pacientes apresentaram piora na qualidade de vida relacionada à saúde e aumento dos comportamentos de risco relacionados aos padrões de movimento. Os fatores associados ao aumento dos tipos de comportamento sedentário estudados foram distintos e precisam ser levados em consideração no estabelecimento de políticas públicas de prevenção em saúde. |