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Neste projeto de Iniciação Científica, intitulado ‘Sitiantes e ervateiros do planalto meridional brasileiro: vida, acesso à terra, mobilidade e conflitos’, foi estudada a população de sitiantes, ervateiros, tropeiros e outros camponeses agregados de grandes proprietários no Planalto Catarinense e do conflito que este grupo protagonizou, a Guerra Sertaneja do Contestado, a partir da visão da imprensa catarinense. Nesse conflito, impulsionado pela grave crise social e política que vigorava na região, esses camponeses apresentaram de forma autônoma um projeto político alternativo à expansão da modernidade e uma linguagem próprios de suas tradições culturais e religiosas. Para o desenvolvimento do projeto, foi essencial o atento estudo do contexto do Planalto, da constituição de sua população, da sua vida, dos conflitos e crises na região, bem como da própria imprensa e de suas concepções de modo a desfazer as ideias construídas pela historiografia militar, que primeiro estudou o conflito na região, e que reproduzia perspectivas preconceituosas a respeito da população local, considerando-a atrasada, ignorante e fanática. Foi utilizado como fonte primária o Jornal O Trabalho, órgão oficial do Partido Republicano Catarinense no município de Curitibanos e editado pelo Superintendente Municipal, o Coronel da Guarda Nacional Francisco Ferreira de Albuquerque. As consultas ao periódico foram realizadas na Biblioteca Pública do Estado de Santa Catarina, e as matérias de interesse foram fotografadas e fichadas, guardando o nome do jornal, o local e a data de publicação, a página e a coluna da matéria, bem como um resumo de seu conteúdo, buscando personagens da Guerra Sertaneja do Contestado, notícias de conflitos e representações do campesinato caboclo. Ao todo, foram consultadas 51 matérias de jornal entre os anos de 1907, da primeira edição do Trabalho, até 1913, ano de início da Guerra do Contestado. O ‘Trabalho’ trouxe uma ampla gama de exemplos da política do Partido Republicano a respeito da questão de limites com o Paraná, conflitos com os povos indígenas e de seu apoio à colonização europeia e à expansão das Estradas de Ferro. Tendo como editor o Coronel Albuquerque, que foi quem primeiro reprimiu o Movimento Social do Contestado, encontramos uma série de menções aos agrupamentos camponeses e sua organização, sempre na intenção de desmoralizá-los. Os caboclos aparecem no jornal como supersticiosos, ignorantes e facilmente manipulados e fanatizados por malfeitores. Nesse sentido, o Jornal O Trabalho é um bom exemplo de como a imprensa dominante na Primeira República representava as classes populares. Ligada às oligarquias e a seus interesses políticos, reproduzia, assim como os militares, concepções preconceituosas sobre o campesinato, enquanto figuras do atraso civilizatório, da ignorância e da manipulação, como adversários da modernidade. |
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