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O presente trabalho é um desdobramento da pesquisa “Democracias e ditaduras na América Latina no século XX”. Inserida no eixo “cultura e resistência”, minha pesquisa se dedicou a estudar o cinema argentino e seu interesse por temas relacionados à ditadura militar ocorrida no país entre os anos de 1976 e 1983. A partir do levantamento bibliográfico sobre o assunto, que existe uma tradição no cinema argentino, construída desde a década de 1980, em retratar de forma bastante crítica assuntos relacionados à ditadura militar. Trata-se de um posicionamento político bastante contundente de um grupo de cineastas argentinos de utilizar o cinema como ferramenta produtora de memória. Neste trabalho analiso especialmente o filme “Argentina, 1985”, de Santigo Mitre. Lançado em 2022, o filme de Mitre dá continuidade a essa tradição do cinema argentino. Trata-se de um drama jurídico, baseado na história do promotor Julio Strassera e do julgamento que levou à condenação um importante grupo de militares, acusado de uma série de crimes cometidos durante o período. O objetivo dessa pesquisa foi compreender como esse filme de Santiago Mitre contribui para a construção da memória coletiva e da identidade nacional, dois conceitos norteadores do trabalho. Por se tratar de um drama histórico, a metodologia utilizada para a leitura dessa obra se baseia nos pressupostos de Marc Ferro, que compreende que toda obra cinematográfica é fruto do seu tempo de produção, e Robert Rosenstone, que entende o filme histórico como um produtor legítimo de um discurso sobre o passado. Além dessa leitura mais ampla de Argentina, 1985, minha pesquisa procurou analisar de forma mais aprofundada a sequência final do filme. Nela ocorre o histórico do Julgamento das Juntas, no qual, pela primeira vez na história das ditaduras militares latino-americanas, um tribunal composto por civis julgou membros das três juntas militares da Argentina. Do ponto de vista metodológico, construí minha interpretação dessa sequência, a partir do uso das ferramentas da análise fílmica dos elementos, propondo um cruzamento entre a análise formal das cenas (texto, escolha de planos, iluminação, som, recursos fotográficos) com o contexto em que se passa o filme. Desta forma, procurei demonstrar nessa pesquisa que o filme de Santiago Mitre reforça o discurso da necessidade permanente de se construir uma memória coletiva sobre os danos que os anos de ditadura e abuso dos militares trouxe para a democracia Argentina: é preciso lembrar de forma recorrente e sistemática das arbitrariedades ocorridas no passado para que eventos dessa natureza não venham ocorrer nunca mais. |
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