Gestão feminina: a experiência de mulheres que se destacam na polícia civil

Abstract

A entrada da mulher no mercado de trabalho e a busca pela igualdade de gênero nos meios familiar, social e profissional é um processo recente, de algumas décadas, que teve avanços, mas ainda é desafiador. As pesquisas demonstram que as mulheres, mesmo na atualidade, enfrentam muitas dificuldades no ambiente profissional, sob a ótica do gênero, como autônomas, bem como quando inseridas nas organizações privadas e públicas. As polícias civis brasileiras possuem atividades finalísticas de investigações criminais e cumprimento de mandados de prisão e afins, papéis culturalmente conferidos ao masculino. Essas organizações possuem um número maior de homens, e em alguns Estados o efetivo masculino é maior do que o dobro do feminino. Não foram encontrados estudos sobre o comportamento empreendedor das policiais civis brasileiras que alcançaram posições de gestão nas suas instituições. Nesse sentido, considerando que o conhecimento passou a ser o ativo mais importante no contexto organizacional e que as temáticas voltadas à equidade de gênero têm uma importância social, este trabalho, em seu objetivo geral, visa a compreender as experiências vividas e sentidas por mulheres que se destacaram nas polícias civis atuando em cargos de gestão. Como objetivos específicos, espera-se: descrever as suas experiências sentidas e vividas; identificar os fatores facilitadores e as barreiras enfrentadas por elas; e verificar como superaram as barreiras enfrentadas. Para que o objetivo proposto fosse atingido, a pesquisa utilizou o contexto das polícias civis de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul e foi conduzida por meio de uma abordagem qualitativa, exploratória e descritiva. Após a revisão da literatura, realizada com base na revisão sistemática integrativa da literatura, os dados foram coletados por meio de pesquisa documental e de aplicação de questionário para a identificação de competências empreendedoras, o que permitiu a seleção das entrevistadas. Foi feita a análise temática da entrevista semiestruturada com foco em incidentes críticos aplicada em 22 mulheres policiais civis que ocupam posição de gestão e que se destacam nas suas instituições. Os resultados desta pesquisa apontam que, apesar dos recentes avanços, a presença de mulheres nas polícias civis do Brasil é pequena, assim como é baixo o número de mulheres ocupando cargos de gestão nessas instituições, sendo essa uma das grandes barreiras encontradas. Foi possível constatar que a maioria das barreiras e dos facilitadores identificados na literatura foi encontrada pelas mulheres entrevistadas. Identificou-se que as barreiras familiares, culturais e religiosas, do preconceito e da discriminação, da obstrução masculina e do teto de vidro permeiam as barreiras da dupla jornada e da falta de empoderamento, autoconhecimento e autoconfiança. Foi possível verificar que elas conquistam espaço nos cargos de gestão à custa de maior esforço e dedicação do que seus pares masculinos e lançam mão de facilitadores para conseguir essa ascensão: influência positiva da família, comunicação e habilidade de articulação, networking, investimento em instrução e qualificação, experiência e mentoria. Através dessas competências empreendedoras, elas adquirem autoconfiança e enfrentam suas barreiras internas.

Abstract: The entry of women into the labor market and the search for gender equality in the family, social and professional environments is a recent process, lasting a few decades, which has made progress, but is still challenging. Research shows that women, even today, face many difficulties in the professional environment, from the perspective of gender, as autonomous, as well, as when inserted in private and public organizations. The Brazilian civil police have activities for the purpose of criminal investigations and execution of arrest warrants and the like, roles that are culturally conferred on men. These organizations have a larger number of men, and in some states the male workforce is more than double the number of females. No studies were found on the entrepreneurial behavior of Brazilian civil police officers who reached strategic positions in their institutions. In this sense, considering that knowledge has become themost importantassetinthe organizational context andthat issues relatedto gender equity have a social importance, this work, in its general objective, aims to understand thelived and felt experiences of women who stood out in the Brazilian civil police for theirentrepreneurial attitudes. As specific objectives, it is expected to describe their felt and lived experiences, identify facilitating factors and barriers faced by them, verify how they overcame the barriers faced, and also seeks to analyze the relationship between their entrepreneurial attitudes, in the organizational context, and their empowerment. This is a qualitative, bibliographic and exploratory research, in which the researcher, after a literature review based on an integrative systematic literature review, performs empirical data collection, through field research through semi-structured interviews with women civil police officers from several states of the federation, who occupy relevant positions in their institutions. The results of this research indicate that, despite recent advances, the presence of women in civil police forces in Brazil is small, as well as the low number of women occupying management positions in these institutions, which is one of the major barriers encountered. It was possible to verify that most of the barriers and facilitators identified in the literature were found by the interviewed women. It was identified that family, cultural and religious barriers, prejudice and detection, male retention, and the glass ceiling, permeate the barriers of the double journey and the lack of empowerment, self-knowledge and self-confidence. It was possible to identify that they gain space in the management positions at the expense of more effort and dedication than their male peers, and make use of facilitators to achieve this ascension: positive influence from the family, communication and coordination skills, networking, investment in education and qualification, experience and mentoring Through these entrepreneurial skills, they acquire self-confidence and face their internal barriers.