Aprender a habitar na época da técnica: uma reflexão ontológica para a educação pública brasileira

Abstract

O presente estudo visa contextualizar o tema da educação brasileira em articulação com a era da técnica a partir da interpretação dos escritos heideggerianos posteriores à década de 30. A fim de questionar os critérios que motivam as escolhas curriculares no território brasileiro, nos apoiaremos na Base Nacional Curricular Comum (BNCC) como guia para situarmos o momento histórico em que vivemos em relação ao modo como nos educamos. Para isso, no primeiro capítulo mostro como a questão da técnica se desenvolve na filosofia heideggeriana a partir da história Ocidental, na medida em que exprime as consequências de uma época técnica através do esquecimento da pergunta pelo ser. Com a finalidade de relacionar uma reflexão ontológica com o tema da educação, desdobramos o cenário epocal da mobilização técnica em direção ao resgate do tema do pensamento. A partir da diferenciação didática do pensamento entre calculativo e meditativo, contrastamos uma das características da armação (Ge-stell) com a inauguração da noção de ?aprender a pensar? que aparece no texto ``O que quer dizer pensar?''. No segundo capítulo, apontamos o poético como elemento que sustenta um traço da existência humana, na medida em que desenvolvemos em conjunto o tema da habitação e do pensamento. O elemento poético surge em nossa investigação em vista de uma ampliação de nossa compreensão sobre o significado da noção de habitação na época da técnica. Ao compreender que tanto habitar quanto pensar não acontecem meramente, resgatamos a menção do filósofo ao termo \"aprender a pensar? em conjunto com ?aprender a habitar? como indicações de tarefas ontológicas e epocais. A partir disso, desenvolvemos tanto a noção de aprender a pensar, quanto a de aprender a habitar com o objetivo de ampliar a nossa concepção sobre as motivações que guiam a educação básica brasileira. Isso significa que tal desenvolvimento nos conduz para o tema da apropriação histórica como uma tarefa de resgate do pensamento através da rememoração. Tais ideias são desenvolvidas a partir do tema da habitação como contraste à época da técnica caracterizada pelo esquecimento do ser, na medida em que exploramos as características ontológicas de ambos os cenários. Ao passo que situamos tal debate, concluímos o segundo capítulo apresentando o tema da espacialidade ontológica como uma reflexão digna de nota, no que diz respeito à importância da participação da comunidade para a educação. Portanto, a partir da noção de aprender a pensar em contraste com a ameaça ao pensamento característico da época da técnica moderna, mostramos como aprender a habitar aparece como uma perspectiva não-violenta que preserva o próprio meio e resguarda a comunidade em questão através de prática educativa.

Abstract: The present study aims at contextualizing Brazilian education within the framework of the age of technics, based on a reading of Heidegger?s writings after the 1930s. In order to question the criteria that motivated the curricular choices within Brazil?s education system, I shall appeal to the country?s National Common Curricular Basis (BNCC) as a guiding principle to place the historical context in which we live in relation to the way we educate ourselves. To that end, I intend to show in the first chapterhow the question of technics unfolds within Heidegger?s philosophy in accordance with Western history, insofar as it expresses the consequences of a technical age by forgetting the question of being. It is also crucial to unravel the epochal setting from which technics rose so as to rescue the theme of thinking and thus connect an ontological approach to the subject of education. By means of the distinction between calculative and meditative thinking, I oppose what Heidegger calls framework (Gestell) with his introduction of the concept of ?learning to think? in ?What is Called Thinking??. In the second chapter, in developing the themes of dwelling and thinking, I show how a poetic element supports a trace of human existence. This poetic element comes up inthe course of the investigation due to a broadening in the understanding of the meaning of the notion of dwelling in the age of technics. As we understand that not only dwelling but also thinking do not simply occur, we also rescue Heidegger?s mentions ofthe terms ?learning to think? and ?learning to dwell? as descriptions of ontological and epochal tasks. Then I analyze these concepts to broaden our notion of the motivations that guide Brazilian basic education. This means that such a development leads us to the subject of historical appropriation as a quest to recover thinking through remembrance. Based on the opposition between the concept of dwelling and the epoch of technics, marked by its forgetfulness of being, I also develop these ideas further, asI explore the ontological features of both these settings. Moreover, in introducing this debate, I conclude the second chapter by presenting the concept of ontological spatiality as a noteworthy reflection on the importance of the participation of the community in education. Finally, I show, based on the notion of learning to think as opposed to the threat of technically oriented thinking, how learning to dwell appears as a non-violent perspective that preserves the environment and safeguards the communityin question through educational practices.