Guia de design para inovação social em sistemas alimentares: uma solução habilitante de apoio a agentes de mudança

Abstract

Os sistemas alimentares comunitários surgem como um movimento de base em resposta a um modelo que tem posto em risco a segurança alimentar e nutricional, principalmente, de pessoas em situações de vulnerabilidade social, além de estar homogeneizando consideravelmente as culturas alimentares. Para reverter esse cenário, algumas ações políticas estão sendo tomadas, além de organizações locais e parcerias entre diferentes agentes para viabilizar os sistemas alimentares comunitários, visando mudanças sistêmicas orientadas à sustentabilidade. Ações de organizações da sociedade civil, realizadas por agentes de mudança, como os agentes do movimento Slow Food, têm sido mencionadas como estratégicas para apoiar os movimentos de base no resgate da segurança alimentar e nutricional, da soberania alimentar, e empoderamento das comunidades pela geração de conhecimentos alimentares e de produção. As ações sociais são chave para a sustentabilidade destes sistemas, nesse sentido, as relações entre os agentes envolvidos são o caminho para tal. No entanto, o estabelecimento dessas relações é um dos principais desafios enfrentados, e impactam diretamente os resultados alcançados pelas comunidades, principalmente no que diz respeito à resiliência, governança e sustentabilidade. Visando contribuir neste contexto, para facilitar o estabelecimento de infraestruturas relacionais e apoiar as ações dos agentes de mudança, esta pesquisa objetivou criar uma solução habilitante para instrumentalizar os agentes de mudança visando a inovação social, por meio da gestão de design com abordagem sistêmica. Para isso, realizou-se uma pesquisa de natureza aplicada, abordagem qualitativa e explicativa quanto aos seus objetivos, adotando a pesquisa-ação como método, o processo projetual do NASDESIGN e o Codesign como abordagem da ação, aplicando ferramentas da gestão de design e sistêmicas para envolver os agentes do Slow Food Brasil como participantes. A pesquisa resultou no desenvolvimento da solução habilitante, composta de uma abordagem prática para orientar os agentes na condução dos projetos por meio de um processo dividido em quatro estágios, cada qual com seus objetivos, ferramentas e procedimentos para auxiliar a ação. A solução demonstrou ser capaz de potencializar o alcance dos objetivos estratégicos, tanto dos agentes do Slow Food, quanto dos agentes das comunidades, num processo participativo e colaborativo, do início ao fim, que vai de uma visão abstrata à concreta, efetivando a realização de projetos integrando os valores, culturas, necessidades e objetivos das organizações. Facilitando, deste modo, o acoplamento estrutural social entre agentes do Slow food e agentes comunitários. Esse acoplamento é facilitado pela abordagem sistêmica trazida à gestão de design para apoiar a geração de contextos humanos ideias para os processos de aprendizagem propostos por projetos. O guia foi avaliado como uma ferramenta que possibilita estruturar melhor as ações e iniciativas, e visualizar as possibilidades do desenvolvimento dos projetos como um todo, tornando-se relevante tanto para os agentes do Slow Food, quanto para as comunidades, por apresentar um conjunto de procedimentos e ferramentas que apoiam o desenvolvimento e resiliência das organizações, contribuindo para a autonomia das comunidades para dar continuidade aos projetos desenvolvidos coletivamente.

Abstract: Community food systems emerge as a grassroots movement in response to a model that has jeopardized food and nutrition security, especially for people in situations of social vulnerability, in addition to being considerably homogenizing food cultures. To reverse this scenario, some political actions are being taken, in addition to local organizations and partnerships between different agents to make community food systems viable, aiming at systemic changes oriented to sustainability. Actions by civil society organizations, carried out by agents of change, such as agents of the Slow Food movement, have been mentioned as strategic to support grassroots movements in the rescue of food and nutrition security, food sovereignty, and empowerment of communities for generations food and production knowledge. Social actions are key to the sustainability of these systems, in this sense, the relationships between the agents involved are the way to do so. However, establishing these relationships is one of the main challenges faced, and they directly impact the results achieved by the communities, especially with regard to resilience, governance and sustainability. Aiming to contribute in this context, to facilitate the establishment of relational infrastructures to support the actions of change agents, this research aimed to create an enabling solution to equip change agents with a view to social innovation, through design management with a systemic approach. For this, an applied research was carried out, with a qualitative and explanatory approach regarding its objectives, adopting action research as a method, the NASDESIGN design process and Codesign as an action approach, applying design and systemic management tools to involve Slow Food Brazil agents as participants. The research resulted in the development of the enabling solution, consisting of a practical approach to guide agents in conducting projects through a process divided into four stages, each with its objectives, tools and procedures to assist the action. The solution proved capable of enhancing the achievement of strategic objectives, both for Slow Food agents and community agents, in a participatory and collaborative process, from start to finish, which goes from an abstract vision to a concrete one, bringing about the realization of projects integrating the values, cultures, needs and objectives of organizations. Facilitating, in this way, the social structural coupling between Slow food agents and community agents. This coupling is facilitated by the systemic approach brought to design management to support the generation of ideal human contexts for the learning processes proposed by projects. The guide was evaluated as a tool that makes it possible to better structure actions and initiatives, and visualize the possibilities for developing projects as a whole, making it relevant both for Slow Food agents and for communities, as it presents a set of procedures and tools that support the development and resilience of organizations, contributing to the autonomy of communities to continue the projects developed collectively.