Da escrita à consagração: os caminhos da obra de Maria Firmina dos Reis

Abstract

Esta tese apresenta uma análise sobre a obra de Maria Firmina dos Reis (1822-1917) e as diferentes perspectivas exploradas por seus críticos desde a publicação de seus trabalhos até as comemorações do bicentenário de nascimento da escritora. Esse longo recorte permite observar como o interesse dos críticos oscilou entre as publicações no século XIX, os movimentos de resgate realizados entre as décadas de 1970 e 1990 e o recente período de popularização que extrapola os limites da crítica literária. Para pensar como a crítica à obra de Maria Firmina tem sido produzida, destacam-se as contribuições da Crítica Feminista como ferramenta teórica para analisar as hierarquias que o sexismo e o racismo estabeleceram na sociedade brasileira e como tais distinções atuam sobre a produção literária e o possível reconhecimento de escritoras em instituições formadas majoritariamente por homens brancos, como academias de letras. Esta análise tem permitido identificar que, além das questões formais e estéticas exploradas pela escritora na tessitura de sua obra, a atenção dedicada à maranhense é marcada por uma associação a elementos que extrapolam seus textos. No caso, destacam-se a crítica à escravidão e ao protagonismo de personagens negros, sobretudo em seu romance Úrsula, e o pioneirismo representado pela escritora como uma mulher negra romancista no século XIX. Deste modo, estes elementos estimulam a ação da crítica que associa a obra à discussão sobre as relações de gênero e étnico/raciais que marcam nossa sociedade.

Abstract: This thesis presents an analysis of the work of Maria Firmina dos Reis (1822-1917) and the different perspectives explored by her critics since the publication of her works until the celebrations of the bicentennial of the writer's birth. This long section allows us to observe how the critics' interest oscillated between the publications in the 19th century, the rescue movements carried out between the 1970s and 1990s and the recent period of popularization that goes beyond the limits of literary criticism. In order to think about how the criticism of Maria Firmina's work has been produced, the contributions of the Feminist Criticism stand out as a theoretical tool to analyze the hierarchies that sexism and racism established in Brazilian society and how such distinctions act on literary production and the possible recognition of women writers in institutions formed mostly by white men, such as academies of letters. This analysis has allowed us to identify that, in addition to the formal and aesthetic issues explored by the writer in the fabric of her work, the attention dedicated to her work is marked by an association with elements that go beyond her texts. In this case, the criticism of slavery and the protagonism of black characters stand out, especially in her novel Úrsula, and the pioneering spirit represented by the writer as a black woman novelist in the 19th century. In this way, these elements stimulate the action of criticism that associates the work with the discussion on gender and ethnic/racial relations that mark our society.