Análise de remanescentes de floresta primária com Ocotea Catharinensis (canela-preta): biogeografia da conservação na ilha de Santa Catarina, Brasil

Abstract

A Floresta Ombrófila Densa (FOD) é uma fitofisionomia da Mata Atlântica e ocupa 218 km², ou 51,6%, da área total da Ilha de Santa Catarina (ISC), no município de Florianópolis. Contudo, há poucas áreas com remanescentes adultos da Ocotea catharinensis (canela-preta), que foi uma das espécies mais comuns antes da chegada dos colonizadores, correspondendo a 1/3 das espécies arbóreas da floresta. Esta pesquisa analisou a presença de Ocotea catharinensis como bioindicadora dos remanescentes florestais primários; bem como levantou as espécies de fauna que vivem nos remanescentes de floresta primária com presença de Ocotea catharinensis. Foram realizados trabalhos de análise de fotografias aéreas e imagens de satélite, a fim de compreender a evolução dos fragmentos florestais de 1938 até os dias atuais, também o cálculo do Índice de vegetação por diferença normalizada (NDVI) e a geração de mapa de temperatura de superfície do solo. Após identificação dos melhores fragmentos florestais (quanto a densidade de vegetação e histórico da evolução do uso do solo), foram realizados levantamentos de campo para identificação de indivíduos de Ocotea catharinensis, georreferenciando-os. Além da espécie, também foram observados aspectos do remanescente com relação a outras espécies arbóreas que compõem o mesmo grupo ecológico. Os fragmentos que resistiram ao intenso desmatamento para a agricultura na Ilha de Santa Catarina, representam 21% de toda área com vegetação da ISC, sendo que no que diz respeito aos remanescentes com características primárias, foram mapeados dez (10) remanescentes, totalizando 72,805 hectares, com 415 indivíduos de Ocotea Catharinensis, com mais de 20 cm de DAP, representam somente 0,3 % da FOD da Ilha. Foram realizadas 38 expedições de campo, totalizando cerca de 300 km de caminhada. Além disso, foram realizados 16 trabalhos de campo para monitoramento da fauna, tendo assim sido realizadas 54 expedições de campo e mais de 400 km de caminhada nas morrarias da Ilha de Santa Catarina. As armadilhas fotográficas foram instaladas em conjunto com o projeto Fauna Floripa, que visa monitorar as espécies de mamíferos terrestres e aves terrícolas da Ilha de Santa Catarina. Todas as áreas com remanescentes florestais com Ocotea catharinensis estão localizadas em Unidades de Conservação. Apesar do número reduzido de mamíferos, sobretudo herbívoros que contribuem com a dispersão das sementes, as aves nos remanescentes primários têm se mostrado diferenciadas, em comparação com as aves registradas nos fragmentos de floresta secundária. Por fim, os resultados deste estudo indicam que os remanescentes de Floresta Primária das três Unidades de Conservação desempenham importante papel na conservação da mastofauna, mas sobretudo das aves da Ilha de Santa Catarina, e, estas contribuem diretamente para a disseminação da Ocotea catarinenses, espécie bioindicadora dos remanescentes de floresta primária na Ilha de Santa Catarina.

Abstract: The Dense Ombrophylous Forest (FOD) is a phytophysiognomy of the Atlantic Forest and occupies 218 km², or 51.6%, of the total area of Santa Catarina Island (ISC), in the municipality of Florianópolis. However, there are few areas with adult remnants of Ocotea catharinensis (black cinnamon), which was one of the most common species before the arrival of colonizers, corresponding to 1/3 of the forest's tree species. This research analyzed the presence of Ocotea catharinensis as a bioindicator of primary forest remnants; as well as surveying the fauna species that live in the remnants of primary forest with the presence of Ocotea catharinensis. Analysis of aerial photographs and satellite images was carried out in order to understand the evolution of forest fragments from 1938 to the present day, as well as the calculation of the Normalized Difference Vegetation Index (NDVI) and the generation of a temperature map of soil surface. After identifying the best forest fragments (in terms of vegetation density and historical evolution of land use), field surveys were carried out to identify individuals of Ocotea catharinensis, georeferencing them. In addition to the species, aspects of the remnant were also observed in relation to other tree species that make up the same ecological group. The fragments that resisted intense deforestation for agriculture on the Island of Santa Catarina, represent 21% of the entire area with vegetation in the ISC, and with regard to the remnants with primary characteristics, ten (10) remnants were mapped, totaling 72,805 hectares , with 415 individuals of Ocotea Catharinensis, with more than 20 cm dbh, represent only 0.3% of the island's FOD. 38 field expeditions were carried out, totaling around 300 km of walking. In addition, 16 field works were carried out to monitor the fauna, resulting in 54 field expeditions and more than 400 km of walks in the hills of Santa Catarina Island. The camera traps were installed in conjunction with the Fauna Floripa project, which aims to monitor species of land mammals and land birds on Santa Catarina Island. All areas with forest remnants with Ocotea catharinensis are located in Conservation Units. Despite the reduced number of mammals, especially herbivores that contribute to the dispersion of seeds, the birds in the primary remnants have been shown to be differentiated, compared to the birds recorded in the secondary forest fragments. Finally, the results of this study indicate that the remnants of Primary Forest in the three Conservation Units play an important role in the conservation of mammal fauna, but especially birds on the Island of Santa Catarina, and these directly contribute to the dissemination of Ocotea catarinenses, a species bioindicator of primary forest remnants on Santa Catarina Island.