As contradições das relações entre patriarcado, capital e trabalho expressas na atuação de professores homens na Educação Infantil

Abstract

Esta dissertação tem como objetivo compreender e analisar as condições que permitem a atuação dos professores homens na Educação Infantil diante das contradições da sociedade capitalista. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (Brasil, 2020) mostram que nos últimos anos o número de professores homens na Educação Infantil brasileira não ultrapassou de 3,8% em relação à totalidade de professores. Pesquisas diversas mostram que a atuação dos homens como professores nessa etapa da Educação Básica é permeada por situações de estranhamento vindos das famílias, dos colegas de trabalho e das gestões escolares, fazendo com que esses sujeitos passem por um período de aprovação chamado por pesquisadores de ? período comprobatório? (Ramos, 2011). A relevância desse estudo reside em uma compreensão mais profunda do processo social que envolve a docência nesta etapa da educação, analisando a origem desse problema na história concreta, onde patriarcado, capital e trabalho se correlacionam e partes específicas diferentes de uma mesma totalidade. Engendradas pelos processos históricos constituídos nas formas de produção e reprodução da vida, as relações entre classe e gênero aparecem como sínteses de múltiplas determinações e compõem uma totalidade complexa e estruturada. Em termos teórico-metodológicos, essa pesquisa é ampliada pela perspectiva materialista histórico-dialética, e foi realizada por meio de: 1) revisão analítica da bibliografia histórica e sociológica em relação à opressão às mulheres em nossa sociedade; 2) revisão da produção acadêmica sobre a temática; 3) análise de projetos de lei e documentos educacionais apresentados recentemente no Brasil que retrocedem debates em relação às discussões de gênero e que culminam na classificação de professores homens na Educação Infantil. A pesquisa evidencia que os problemas relacionados à presença de professores homens nesta etapa da educação formal relacionam-se aos limites do modo de produção capitalista. O estranhamento social com a atuação masculina neste espaço, em que o ensino é secundário e o cuidado, desvalorizado socialmente, é entendido como uma extensão do cuidado no ambiente doméstico, reflete a opressão e a exploração do trabalho feminino nesta sociedade. A superação substancial desta realidade vai além das discussões de gênero nos currículos e do aumento do número de homens na Educação Infantil, e relaciona-se com a superação do modo de produção capitalista e, adicionalmente, a destruição do patriarcado.

Abstract: This dissertation aims to understand and analyze the conditions that permeate the actions of male teachers in Early Childhood Education in the face of contradictions in capitalist society. Data from the Brazilian Institute of Geography and Statistics (Brasil, 2020) reveals that in recent years, the percentage of male teachers in Brazilian Early Childhood Education has not exceeded 3.8% of the total number of teachers. Various studies indicate that men?s involvement as teachers in this stage of Basic Education is characterized by situations of estrangement from families, colleagues, and school management, subjecting these individuals to a period referred to by researchers as the \"confirmatory period\" (Ramos, 2011). The relevance of this study lies in a deeper understanding of the social process that involves teaching at this educational stage, analyzing the origins of this problem in concrete history, where patriarchy, capital, and labor correlate and constitute different parts of the same totality. Arising from historical processes that are constituted in the forms of production and reproduction of life, the relations between class and gender appear as a synthesis of multiple determinations and compose a complex and structured totality. In theoretical and methodological terms, this research is supported by the historical-dialectical materialist perspective and was carried out through: 1) an analytical review of historical and sociological literature regarding women?s oppression in our society; 2) a review of academic production on the subject; 3) an analysis of recently proposed legislative projects and educational documents in Brazil that regress debates regarding gender discussions and result in the prohibition of male teachers in Early Childhood Education. The research highlights that problems related to the presence of male teachers at this stage of formal education are connected to the limits of the capitalist mode of production. The social estrangement towards male occupation in this space, where teaching is marginalized and care is socially devalued and is understood as an extension of care in the domestic environment, reflects the oppression and exploitation of female labor in this society. Overcoming this reality substantially goes beyond gender discussions in curricula and increasing the number of men in Early Childhood Education, and is related to overcoming the capitalist mode of production and, consequently, the destruction of patriarchy.