O mundo desarticulado: o problema da totalidade na Geografia de Pierre George

Abstract

O presente trabalho aborda a trajetória e o legado do geógrafo francês Pierre George, que apesar de ter uma vasta produção bibliográfica traduzida para o português nas décadas de 1960 e 1970, permanece em grande parte desconhecido entre os geógrafos brasileiros. Sua trajetória vai além de mestre da Geografia Ativa, que contribuiu para a emergência da Geografia Crítica no Brasil, sua influência se estende para o estudo dos temas urbanos e da utilização de seus manuais das diferentes subáreas da Geografia que foram leitura obrigatória nos cursos pelo país. Pierre George viveu períodos de rupturas e transformações, notadamente entre as décadas de 1940 e 1970, quando questionamentos à geografia clássica francesa, a militância no Partido Comunista Francês, os impactos da Segunda Guerra Mundial e a emergência do welfare state no bojo da coexistência de dois modos de produção distintos, o capitalismo e o socialismo, moldaram suas abordagens. O que levou o autor a transitar entre diferentes tradições teóricas, passando pelo marxismo e outros enfoques. Esta dissertação se propõe a realizar uma análise epistemológica da Geografia de Pierre George, confrontando-a com o pensamento de Milton Santos. O objetivo é identificar os problemas de conhecimento e moral presentes na produção intelectual de George, além de explorar sua influência na Geografia brasileira e compreender os momentos de apropriação e ruptura de suas ideias pelos geógrafos brasileiros. A análise crítica de suas obras também enfoca os limites de seu marxismo, especialmente no que diz respeito à ausência de uma visão mais abrangente de totalidade e suas implicações nas reflexões sobre desenvolvimento, subdesenvolvimento, imperialismo e luta de classes. Por fim, o texto confronta a abordagem geográfica de Pierre George com a \"geografia crítica\" de Milton Santos, buscando identificar continuidades e descontinuidades entre os dois autores. Coloca-se em relevo a visão da técnica entre Pierre George e Milton Santos, a fim de demonstrar a perspectiva um pouco estreita acerca da técnica presente no geógrafo francês.

Abstract: This work addresses the trajectory and legacy of the French geographer Pierre George, who despite having an extensive bibliographic production translated into Portuguese in the 1960s and 1970s, remains largely unknown among Brazilian geographers. His trajectory goes beyond being a master of Active Geography, which contributed to the emergence of Critical Geography in Brazil. His influence extends to the study of urban themes and the use of his manuals in different subareas of Geography, which were mandatory readings in courses throughout the country. Pierre George experienced periods of ruptures and transformations, notably between the 1940s and 1970s, when his challenges against classical French geography, his involvement in the French Communist Party, the impacts of World War II, and the emergence of the welfare state within the coexistence of two distinct modes of production, capitalism and socialism, shaped George?s approaches. This issues led the author to the transition between different theoretical traditions, including Marxism and other perspectives. This dissertation aims to perform an epistemological analysis of Pierre George's Geography, confronting it with the thoughts of Milton Santos. The objective is to identify knowledge and moral issues present in George's intellectual production, as well aims to explore his influence on Brazilian Geography and to understand the moments of appropriation and divergence of his ideas among Brazilian geographers. The critical analysis of his works also focuses on the limits of his Marxism, especially concerning the absence of a more comprehensive view of totality and its implications in reflections on development, underdevelopment, imperialism, and class struggle. Lastly, the text compares Pierre George's geographical approach with Milton Santos' \"critical geography,\" seeking to identify continuities and discontinuities between the two authors. It highlights the perspective on technique between Pierre George and Milton Santos, demonstrating the somewhat narrow view of technique present in the French geographer's work.