"Nós por nós": o caso da militância "autônoma", "combativa" e "antifascista" em Londrina-PR

Abstract

Este trabalho analisa os condicionantes sociais e culturais envolvidos no engajamento em coletivos autoidentificados como “autônomos” e “libertários”, organizações militantes inspiradas em princípios “anarquistas”, “antifascistas” e na tática Black Bloc de “ação direta”. O estudo foi embasado em trabalho de campo realizado na cidade de Londrina-PR, onde a presença dessas organizações se tornou bastante expressiva, chegando a compor uma “federação” de cinco coletivos locais que angariou centenas de adeptos. Além de observação participante (entre 2021 e 2022), as análises levaram em conta os conteúdos de 25 entrevistas semiestruturadas feitas com militantes. Como eixo norteador da pesquisa buscou-se investigar as condições sociais, culturais e contextuais de engajamento nos coletivos. Foram privilegiadas as seguintes dimensões de análise: processos de aquisição de apetências, recrutamento, transformações nas visões de mundo, sentidos de retribuição ligados ao engajamento, demarcadores de diferença e clivagens internas. Entre os principais resultados constatou-se o peso de fatores sociais e biográficos na construção do desejo de participação e na sustentação do engajamento ao longo do tempo. Experiências de socialização prévia com temas políticos e o desenvolvimento de laços fortes com militantes se mostraram especialmente relevantes para o recrutamento. Por fim, destacou-se também como as perspectivas de enfrentamento ao “fascismo” e às forças policiais se ligam a uma ideia de militância “combativa” e como o elemento do risco, associado a essa postura, produz dinâmicas particulares a esta forma de engajamento.

This work analyzes the social and cultural constraints involved in engaging in collectives self-identified as “autonomous” and “libertarians”, militant organizations inspired by “anarchist”, “anti-fascist” principles and the Black Bloc tactic of “direct action”. The study was based on fieldwork conducted in the city of Londrina, Brazil, where the presence of these organizations became quite significant, forming a “federation” of five local collectives that gathered hundreds of members. In addition to participant observation (between 2021 and 2022), the analyses took into account the structured content of 25 semi-structured interviews conducted with militants. The research aimed to investigate the social, cultural, and contextual conditions of engagement in these collectives. The following dimensions of analysis were emphasized: processes of acquiring aptitudes, recruitment, transformations in worldviews, senses of reciprocity linked to engagement, markers of difference, and internal divisions. Among the main findings, the weight of social and biographical factors in the construction of the desire for participation and the maintenance of engagement over time was observed. Previous experiences of socialization with political themes and the development of strong bonds with militants are particularly relevant for recruitment. Finally, it was also highlighted how perspectives on confronting “fascism” and police forces are linked to a notion of “combative” militancy, and how the element of risk associated with this stance produces unique dynamics in this form of engagement.