A geoeconomia dos investmentos chineses no Complexo Soja brasileiro sob a lente dos Regimes Alimentares

Abstract

Nas duas últimas décadas, o comércio entre a China e o Brasil tem demonstrado um crescimento constante, com um foco particular no setor agroexportador. Notavelmente, o complexo soja, abrangendo todas as atividades relacionadas aos produtos da oleoginosa, passou a representar a maior parcela desse fluxo comercial. Além dos valores transacionados, chama a atenção a crescente presença de empresas chinesas no setor agroexportador brasileiro. A internacionalização de empresas estatais chinesas faz parte de um amplo programa estratégico voltado para garantir a segurança alimentar da população chinesa, e, com esse objetivo em mente, formou-se um ecossistema de empresas chinesas no Brasil. Para compreender as distinções nas operações das empresas desse ecossistema em relação às empresas tradicionais do setor, realizou-se uma revisão bibliográfica sobre as intersecções nos Regimes Alimentares da China e do Brasil. A abordagem dos Regimes Alimentares visa analisar como as relações centro-periferia se configuram na produção, comercialização e investimento alimentar global. Além disso, conceituaram-se os Regimes Alimentares, o agronegócio brasileiro, o processo de internacionalização de empresas chinesas e as relações comerciais entre ambos os países. Por fim, a literatura revelou que, embora os objetivos das empresas chinesas sejam distintos daqueles das empresas tradicionais do setor, não há uma grande diferenciação em suas operações. O fator que as diferencia é a substancial capacidade de financiamento que essas empresas detêm. Portanto, assim como ocorre com qualquer investimento estrangeiro, os fluxos de capital dessas empresas devem ser cuidadosamente integrados às estratégias de desenvolvimento nacional brasileiro, evitando causar riscos para o mesmo.

In the last two decades, trade between China and Brazil has shown steady growth, with a particular focus on the agro-export sector. Notably, the soybean complex, covering all activities related to all products made of soybeans, became the largest portion of this commercial flow. In addition to the amounts transacted, the growing presence of Chinese companies in the Brazilian agro-export sector is noteworthy. The internationalization of Chinese state-owned enterprises is part of a broad strategic program aimed at ensuring the food security of the Chinese population, and with this goal in mind, an ecosystem of Chinese companies has formed in Brazil. To understand the distinctions in the operations of the companies of this ecosystem in relation to the traditional companies of the sector, a bibliographic review was carried out on the intersections in the Food Regimes of China and Brazil. The approach of Food Regimes aims to analyze how the center-periphery relations are configured in production, marketing and global food investment. In addition, food regimes, brazilian agribusiness, the process of internationalization of Chinese companies and trade relations between both countries were conceptualized. Finally, the literature revealed that, although the objectives of Chinese companies are different from those of traditional companies in the sector, there is no great differentiation in their operations. The factor that differentiates them is the substantial financing capacity that these companies have. Therefore, as with any foreign investment, the capital flows of these companies must be carefully integrated into Brazilian national development strategies, avoiding causing risks for the same.