Abstract:
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Adam Smith é uma figura pertencente ao Iluminismo escocês conhecido por ser o pai da economia. Durante muito tempo, conforme Brown (1997) e Cerqueira (2005), o escocês foi lido como um dos fundadores da tradição liberal, onde suas ideias políticas e morais foram eclipsadas pela economia. Porém, principalmente após discussões metodológicas no campo da história das ideias que buscavam uma leitura mais contextual dos autores do passado, outras vertentes interpretativas surgiram. Essas buscaram compreender as ideias smithianas em um contexto onde o discurso político republicano era relevante. Sendo assim, o objetivo do trabalho é responder se Smith é ainda um herdeiro da tradição republicana ou um fundador da corrente liberal com base nas obras de Cropsey (que insere Smith como um liberal) e Winch (que lê Smith em um contexto republicano). Para responder tal pergunta, a metodologia utilizada é a de Mark Bevir (2008), que compreende que o modo de se ter objetividade na história das ideias é através da comparação de teorias rivais a partir de critérios bem definidos, a saber, exatidão, abrangência, consistência, progressividade, fecundidade e abertura. Para uma melhor compreensão das ideias de Cropsey (1957) e Winch (1978), o início do trabalho foi composto por um esforço de apresentação do contexto do Iluminismo escocês, as linguagens de discurso político (jurisprudência natural e humanismo cívico) e as principais ideias das obras de Smith. Feito isso apresentam-se as discussões em torno da tradição liberal e as controvérsias de que essa é uma tradição que vêm bem formulada desde Locke, passa por Smith e chega aos federalistas americanos. Cropsey (1957) insere Smith como um autor liberal, pois percebe que o mundo pode ser guiado pelos laços utilitários do mercado, e apesar de ter preocupações com as mazelas que esse modo de organização social produz, defende-a, pois com ela é possível alcançar liberdade civil e eclesiástica. Já Winch (1978) busca resgatar a opinião política de Smith a partir de temas desse ramo que estavam em voga no século XVIII: profissionalização do exército, dívida pública e revoltas das colônias americanas. Ao longo de seu livro resgata os vários trechos em que Smith tem preocupações cívicas, de manutenção das virtudes morais, intelectuais e marciais dos cidadãos, mesmo sem utilidade aparente. Feita a comparação das teorias rivais, percebe-se que a interpretação de Winch é mais abrangente e lida com menos fatos incômodos, tem recebido apoio de novos estudos que resgatam a formação das tradições liberal e republicana. Além disso, o autor é fundador de uma corrente fecunda e progressiva, já que se abriu um novo leque para interpretação de Smith. Além de Winch outros autores começaram a produzir estudos nessa linha nos últimos anos, contribuindo para uma melhor compreensão da figura de Smith. Conclui-se que, apesar de não conseguirmos encaixar Smith em uma tradição de pensamento especifica, a teoria que interpreta suas intenções em um contexto republicano é a que melhor atende os critérios de objetividade de Bevir (2008). |