A escrita de si através da cidade em Esse cabelo, de Djaimilia Pereira de Almeida

Abstract

Neste trabalho, investigo o entrecruzamento da autoficção e da cidade, em Esse cabelo (2017), de Djaimilia Pereira de Almeida. Meu objetivo é observar a construção da subjetividade da narradora Mila através da cidade. Argumento que essa construção acontece a partir de três vias principais: a ambivalência (entre o racismo e o pertencimento), a apropriação do centro (construindo identidades para além da marginalização) e os deslocamentos (entre Oeiras – Lisboa – São Gens, mas também entre o passado e o presente, o Eu e o Outro, o dentro e o fora). Relaciono o gênero da autoficção com a construção da subjetividade de mulheres afroeuropeias, entendendo-o também como um movimento de autodefinição e de resistência. Observo que, em Esse cabelo (2017), falar de si e da cidade é também uma forma de interrogar as noções hegemônicas sobre identidade, território, raça e nacionalidade. Por fim, comparo o entrelaçamento do eu e da cidade com um entrelaçamento do privado e do público, do individual e do coletivo, do pessoal e do político, temas caros à crítica literária feminista e ao projeto literário de Djaimilia Pereira de Almeida.

In this work, I investigate the intersection of autofiction and the city, in Esse cabelo (2017), by Djaimilia Pereira de Almeida. My objective is to observe the construction of the narrator’s subjectivity throughout the city. I argue that this construction takes place through three main paths: ambivalence (between racism and belonging), the appropriation of the center (building identities beyond marginalization) and displacements (between Oeiras – Lisbon – São Gens, but also between the past and the present, the Self and the Other, the inside and the outside). I relate the genre of autofiction to the construction of the subjectivity of Afro-European women, also understanding it as a movement of self-definition and resistance. I note that, in Esse cabelo (2017), talking about oneself and the city is also a way of interrogating hegemonic notions about identity, territory, race and nationality. Finally, I compare the intertwining of the self and the city with an intertwining of the private and the public, the individual and the collective, the personal and the political, important themes to the feminist literary criticism and to Djaimilia Pereira de Almeida's literary project.