CORPO URGENTE E EMERGENTE: cartografias de crises através dA Turma da Mônica

Abstract

O entendimento de saúde no ocidente foi construído a partir do adoecimento, perpassando postulações sobre o normal e patológico. Partindo de Foucault (1979), a noção de crise, em saúde mental, evidencia verdades sobre modos de existir enquanto doenças, assim, coloca-se nos manicômios o domínio de certos corpos e nas ciências psis o saber sobre os sujeitos. Moebus (2014), em um apontamento crítico a esse cenário, traz novos olhares e perspectivas sobre a crise, propondo-a como possibilidade de criação frente a um tecido social adoecido. Para problematizar a atuação psicológica destoando-a do lugar de suposto saber, trago o híbrido arte/clínica, proposto por Rolnik (2015), que coloca zonas fronteiriças entre a arte e a clínica como caminho para experienciar potências no viver e inventar a própria existência. Neste sentido, inspirada pela cartografia, busquei analisar, enquanto profissional de saúde, as intervenções psicológicas em contexto de crise e utilizei os quadrinhos de A Turma da Mônica como dispositivo para dar língua aos afetos que atravessaram meu corpo durante os atendimentos. Parti dos diários de pesquisa (Lourau, 1993) de intervenções psicológicas realizadas durante o período enquanto residente no Setor de Urgência e Emergência, no programa de Residência Integrada Multiprofissional em Saúde do Hospital Universitário Polydoro Ernani de São Thiago da Universidade Federal de Santa Catarina. Ao trazer os quadrinhos como possibilidade de dar sentido a essas experiências e entrelaça-las com as vivências do campo, elaboro como a arte auxiliou a compor um corpo clínico que eu chamo de urgente e emergente, ou seja, um corpo psicólogue/pesquisadore que lida com situações limites da crise.