Ensino das infecções sexualmente transmissíveis nos Cursos de Graduação em Enfermagem do Brasil: um estudo histórico

Abstract

Objetivo: Compreender como o tema das Infecções Sexualmente Transmissíveis vem sendo evidenciado pelos Cursos de Graduação em Enfermagem de Universidades Federais do Brasil (1972-2023). Método: Pesquisa qualitativa, sócio-histórica, cuja coleta de dados foi realizada por meio de fontes orais e documentais. Participaram 23 docentes de cinco Cursos de Graduação em Enfermagem de Universidades Federais do Brasil (Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade Federal do Mato Grosso, Universidade Federal da Bahia e Universidade Federal do Amazonas). Realizadas entrevistas, de março a outubro de 2022, em plataforma de reunião virtual (Google Meet). A análise dos dados utilizou o software Atlas.ti® para codificação/organização dos dados. Posteriormente, utilizou-se a Análise de Conteúdo Temática e o marco conceitual acerca dos Determinantes Sociais da Saúde, Vulnerabilidade e Cuidado de Enfermagem. As fontes documentais foram compostas por Projetos Políticos Pedagógicos, grades curriculares, ementas de disciplinas, planos de ensino e de aula disponibilizados de forma online. Resultados: Foram produzidos quatro manuscritos: Infecções sexualmente transmissíveis nos currículos dos cursos de graduação em enfermagem do Brasil; Estratégias de ensino das infecções sexualmente transmissíveis para estudantes de graduação em enfermagem do Brasil; Vulnerabilidade e populações vulnerabilizadas nos cursos de graduação em enfermagem de universidades federais do Brasil: percepção dos docentes; e Ensino das infecções sexualmente transmissíveis para estudantes de graduação em enfermagem: avanços e retrocessos. Os resultados demonstram que o ensino das infecções sexualmente transmissíveis ocorre de maneira programática em disciplinas curriculares, com ênfase em disciplinas de saúde da mulher e do adulto, majoritariamente com foco no HIV/aids e sífilis, envolvendo aspectos de promoção, prevenção, educação em saúde, diagnóstico e tratamento. Ocorre atrelado às políticas públicas vigentes e conforme os índices epidemiológicos de cada região brasileira. Quanto à vulnerabilidade e populações vulnerabilizadas nos currículos, os docentes problematizam os determinantes sociais da saúde enquanto fator que interfere no grau de vulnerabilidade dos indivíduos e citam algumas populações vulnerabilizadas, como pessoas em situação de rua, usuários de drogas, LGBTQIA+, negros, indígenas, profissionais do sexo, entre outros. É evidenciado que, apesar, de haver esse reconhecimento da vulnerabilidade de alguns indivíduos ou grupos, pouco é articulado e implementado nos currículos de forma programática, ocorrendo de maneira intencional por parte de docentes específicos. Os avanços e retrocessos percebidos pelos docentes estão relacionados ao contexto político do país e a evolução da ciência nos aspectos que englobam o atendimento a esta clientela. Conclusão: Os cursos de graduação em enfermagem e a maneira como os currículos estão organizados em termos de disciplinas e conteúdos refletem no perfil dos graduados. A temática aparece programática nos currículos dos cinco cursos; entretanto, não é possível traçar uma transversalidade para além dos ciclos de vida. Está ancorada na autonomia dos docentes em termos de cenários, conteúdos, abordagens e associações com as políticas públicas. Os conteúdos relativos a sexualidade, a vulnerabilidade e populações vulnerabilizadas permitem complexas reflexões, dentre elas, acerca das dificuldades de ações educativas e de intervenções em saúde para determinadas populações, muito embora apareçam enquanto preocupações dos docentes. O ensino de enfermagem ocorre em consonância com os avanços da ciência em termos de atendimento, diagnóstico e tratamento, como também, enfrenta retrocessos quando evidencia-se um contexto político que não valorize o tema nos espaços de educação e saúde.

Objective: To understand how the topic of Sexually Transmitted Infections has been highlighted by Undergraduate Nursing Courses at Federal Universities in Brazil (1972-2023). Method: Qualitative, socio-historical research, whose data collection was carried out through oral and documentary sources. Twenty-three professors from five Undergraduate Nursing Courses from Federal Universities in Brazil participated (Federal University of Rio Grande do Sul, Federal University of Rio de Janeiro, Federal University of Mato Grosso, Federal University of Bahia, and Federal University of Amazonas). Interviews were carried out from March to October 2022, on a virtual meeting platform (Google Meet). Data analysis used the software Atlas.ti® for data coding/organization. Subsequently, Thematic Content Analysis and the conceptual framework regarding the Social Determinants of Health, Vulnerability and Nursing Care were used. The documentary sources consisted of online Pedagogical Political Projects, course schedule, subject syllabuses, teaching, and lesson plans. Results: Four manuscripts were produced: Sexually transmitted infections in the syllabuses of undergraduate nursing courses in Brazil; Teaching strategies for sexually transmitted infections for undergraduate nursing students in Brazil; Vulnerability and vulnerable populations in undergraduate nursing courses at federal universities in Brazil: faculty perceptions; and Teaching sexually transmitted infections to undergraduate nursing students: advances and setbacks. The results demonstrate that the teaching of sexually transmitted infections occurs in a programmatic manner in the syllabus subjects, with an emphasis on women's and adult health subjects, mostly focusing on HIV/AIDS and syphilis, involving aspects of health promotion, disease prevention, health education, diagnosis and treatment. It occurs linked to public policies in effect and according to the epidemiological indexes of each Brazilian region. Regarding vulnerability and vulnerable populations in the syllabuses, professors problematize the social determinants of health as a factor that interferes with the level of vulnerability of individuals and mention some vulnerable populations, such as homeless people, drug users, LGBTQIA+, black people, indigenous people, sex workers, among others. It is evident that, although the vulnerability of some individuals or groups is recognized, little is articulated and implemented in the syllabus in a programmatic way, with the theme being intentionally approached by specific professors. The advances and setbacks perceived by professors are related to the country's political context and the evolution of science in aspects that encompass serving this clientele. Conclusion: Undergraduate nursing courses and the way the syllabuses are organized in terms of subjects and content reflect the profile of graduates. The theme appears programmatically in the syllabuses of the five courses; however, it is not possible to trace a transversality beyond life cycles. It is anchored in the autonomy of professors in terms of scenarios, content, approaches, and associations with public policies. The contents related to sexuality, vulnerability, and vulnerable populations allow complex reflections, among them, about the difficulties of educational actions and health interventions for certain populations, even though they appear as concerns for professors. Nursing education occurs in line with advances in science in terms of care, diagnosis, and treatment, but also faces setbacks when there is evidence of a political context that does not value the topic in the education and health spaces.