Estudo do desenvolvimento intrapuparial de Chrysomya megacephala (Diptera: Calliphoridae)

Abstract

Chrysomya megacephala é uma das espécies mais relevantes para a entomologia forense médico-legal, pois é capaz de localizar e colonizar um cadáver rapidamente, podendo ser utilizada para a estimativa do intervalo pós-morte (IPM). Dentre os estágios de desenvolvimento da espécie, apenas larvas e pupas são utilizadas na estimativa do IPM. O estágio de pupa, que pode ser denominado período intrapuparial, corresponde a mais de 50% do tempo total de desenvolvimento da espécie, mas é pouco utilizado na estimativa do IPM, pois o imaturo fica envolto por um pupário praticamente inalterado durante todo o tempo. Para superar esta barreira da entomologia forense, já existem estudos quanto ao desenvolvimento intrapuparial de C. megacephala, que analisam as mudanças morfológicas do imaturo e as relacionam com intervalos de tempo, porém não há estudos locais para populações da espécie na região de Florianópolis-SC. Assim, este estudo teve como objetivo determinar o intervalo de tempo correspondente a cada fase do desenvolvimento intrapuparial de C. megacephala, com base em amostra local de Florianópolis-SC. Para isso, foi estabelecida uma colônia a partir de adultos de C. megacephala coletados em Florianópolis-SC, da qual foram isolados os exemplares imaturos para a amostragem do desenvolvimento intrapuparial, sob temperatura de 19,2 °C ± 0,8 °C, 70% ± 5% de UR e fotoperíodo natural. Após o início da pupariação, foram coletados 10 exemplares em intervalos de 3 horas nas primeiras 24 horas, e depois em intervalos de 6 horas até a emergência. Os exemplares foram eutanasiados em água quente, fixados em solução AFA e preservados em álcool 70% até a etapa de dissecação para remoção do pupário, com posterior análise sob estereomicroscópio e registro fotográfico. Foram identificadas 4 fases, divididas em 12 subfases para o desenvolvimento intrapuparial da espécie, nomeadas de: pré-pupa, pupa criptocefálica (inicial, média e tardia), pupa fanerocefálica e adulto farado (AF1, AF2, AF3, AF4, AF5, AF6 e AF7). As subfases puderam ser identificadas a partir de 35 caracteres morfológicos definidos no estudo, incluindo estruturas como esqueleto céfalo-faríngeo, cornos respiratórios, apêndices torácicos, antenas, olhos e aparelho bucal. Para cada subfase foi atribuído um intervalo de tempo, de acordo com a ocorrência dos exemplares em cada coleta, contemplado entre 0 horas (pupariação) e 156 horas (emergência). Os resultados foram discrepantes de estudos provenientes de outras regiões, o que demonstra a importância deste estudo para que as pupas da espécie C. megacephala possam ser utilizadas em investigações criminais, na região de Florianópolis-SC, para auxiliar na estimativa do IPM de um cadáver encontrado.

Chrysomya megacephala is one of the most relevant species for medico-legal forensic entomology, because it is capable to locate and colonize a corpse quickly, so it can be used to estimate the post-mortem interval (PMI). Among the developmental stages of the species, only larvae and pupae are used to estimate the PMI. The pupal stage, which can be called intrapuparial period, corresponds to more than 50% of the species' total development time, but it is underused to estimate the PMI, as the immature remains surrounded by a practically unchanged puparium throughout the entire time. To overcome this barrier of the forensic entomology, there are already studies on the intrapuparial development of C. megacephala, which analyze the morphological changes of the immature and relate them to time intervals, however there are no local studies for populations of the species in the region of Florianópolis-SC. Therefore, this study aimed to determine the time interval corresponding to each phase of the intrapuparial development of C. megacephala, based on a local sample from Florianópolis-SC. To this end, a colony was established from adults of C. megacephala collected in Florianópolis-SC, from which immature specimens were isolated for intrapuparial development sampling, at a temperature of 19,2 °C ± 0.8 °C, 70% ± 5% RH and natural photoperiod. After the pupariation began, 10 specimens were collected at 3-hour intervals in the first 24 hours, and then at 6-hour intervals until emergence. The specimens were killed in hot water, fixed in AFA solution and preserved in 70% alcohol until the dissection step to remove the puparium, with subsequent analysis under a stereomicroscope and photographic register. 4 phases were identified, being divided into 12 subphases for the intrapuparial development of the species, named by: prepupa, cryptocephalic pupa (early, middle and late), phanerocephalic pupa and pharate adult (AF1, AF2, AF3, AF4, AF5, AF6 and AF7). The subphases could be identified based on 35 morphological characters defined in the study, including structures such as the cephalopharyngeal skeleton, respiratory horns, thoracic appendages, antennae, eyes and mouthparts. For each subphase, a time interval was assigned, according to the occurrence of specimens in each collection, ranging from 0 hours (pupariation) to 156 hours (emergence). The results differed from studies from other regions, which demonstrates the importance of this study so that C. megacephala pupae can be used in criminal investigations, in the region of Florianópolis-SC, to assist in estimating the PMI of a corpse.