Impactos de concentrações subletais de cinzas de incêndios sobre o comportamento de crustáceos eglídeos (Decapoda: Aeglidae)

Abstract

O aumento de secas prolongadas e climas mais quentes, resultado das mudanças climáticas globais, estão diretamente ligados ao aumento no número de focos de incêndios. O fogo produz resíduos tóxicos, como as cinzas, que representam uma ameaça para a biodiversidade nos ecossistemas terrestres e aquáticos. Cinzas de incêndios podem ser transportadas para o ambiente aquático por ação de chuvas e do vento. Entretanto, os efeitos tóxicos subletais das cinzas solubilizadas na água para a biodiversidade em ambientes aquáticos continentais, ainda são pouco explorados. O presente estudo buscou testar experimentalmente os efeitos de diferentes concentrações de cinzas sobre a biologia de crustáceos eglídeos (Aegla jarai), importantes bioindicadores das águas continentais sul-americanas. Para tanto, cinzas foram produzidas, em condições controladas, após combustão de vegetação típica dos campos de altitude da Serra Geral. Nessa região, a ocorrência de fogo é um distúrbio relativamente frequente, que tem se tornado cada vez mais recorrente. Os organismos-teste foram coletados nos corpos aquáticos da mesma região. Os eglídeos foram expostos às cinzas por 48 horas, em três tratamentos de cinzas: 0g/L (controle); 0,75g/L e 1,5g/L, combinados com dois tratamentos de tipo de extrato aquoso: extratos aquosos de cinzas filtrados (i.e., sem sólidos suspensos) e não-filtrado (i.e., com suspensão de cinzas). Ao final do período de exposição, foram avaliados: (1) o tempo padrão de deslocamento dos crustáceos a três estímulos comportamentais (comportamento agonístico; busca por refúgio; busca por alimento), e (2) a taxa de consumo de alimento. O estudo buscou comparar, também, os efeitos dos diferentes protocolos na produção das soluções de cinzas (filtrada e não-filtrada). Com base nos resultados obtidos foi possível constatar que, no geral, as cinzas oriundas de incêndios nos campos de altitude da Serra Geral não alteram o comportamento dos crustáceos, exceto quanto ao comportamento de busca por alimento, que apresentou diferenças significativas quando em exposição ao extrato aquoso de cinzas sem sólidos em suspensão.

The increase in prolonged droughts and warmer climates resulting from global climate changes, is directly related to the rise in wildfires. Fire produces toxic residues, such as ashes, potentially threatening biodiversity in terrestrial and aquatic ecosystems. Wildfire ashes can be transported to the aquatic environment through rain and wind. However, the sublethal toxic effects of solubilized ashes in water on biodiversity in continental aquatic environments are still underexplored. This study aimed to experimentally test the effects of different ash concentrations on the biology of the crustacean Aegla jarai, an important bioindicator of South American continental waters. For this purpose, ashes were produced under controlled conditions after the combustion of typical vegetation from Southern Brazilian Highland Grasslands. In this region, fire occurrence is a relatively frequent disturbance that has become increasingly recurrent. Test organisms were sampled from streams of the same area as the vegetation. The aeglids were exposed to ashes for 48 hours in three ash concentration treatments: 0g/L (control), 0.75g/L, and 1.5g/L, combined with two types of aqueous extract treatments: filtered ash aqueous extracts (i.e., without suspended solids) and non-filtered (i.e., with suspended solids). After the exposure time, the following were evaluated: (1) standard displacement time of A. jarai for three behavioral stimuli (agonistic behavior, refuge-seeking, and food-seeking) and (2) food consumption rate. The study also compared the effects of different production of ash solutions (filtered and non-filtered) based on the results obtained. It was observed that, at the concentrations used, the ashes from the burning of vegetation from the Southern Brazilian Highland Grasslands did not alter the behavior of the organisms, except for the behavior of food-seeking that presented significant differences when in exposure at aqueous extract of ashes without suspended solids.