"macho-palestrinha": discursos sobre gênero e sexualidade presentes em perfis no Instagram de homens "especialistas em relacionamento" para mulheres

Abstract

As redes sociais estão diariamente presentes na vida das pessoas no Brasil e se tornam ferramentas importantes na construção das subjetividades. Mais especificamente, o Instagram assumiu uma centralidade na vida dos assuntos, nos últimos dez anos, antes ocupado por outros tipos de mídia (televisão, revistas), com o diferencial de produção de conteúdo vinte e quatro horas durante sete dias na semana. Nessa rede social, encontramos perfis de homens que podem ser reconhecidos como \"especialistas em relacionamento\" para mulheres, que revela conteúdo com conselhos para as mesmas de como conquistar um relacionamento duradouro, bem como vendem cursos com essa mesma intenção para esse público. Tais perfis foram o objeto da presente pesquisa. Para tanto, foram escolhidos três perfis selecionados a partir dos afetos que atravessaram a pesquisadora ao ter um primeiro contato com esse conteúdo. Esses foram acompanhados durante três meses do ano de 2022, onde três vezes por semana entraram nesses perfis com o intuito de gravar as histórias que foram postadas, e também selecionar cinco postagens de cada perfil por mês para completar a amostra da presente pesquisa. Após organização e classificação, 73 materiais (entre posts e stories) compilados a amostra que foi testada. Passou-se a analisá-los a partir de uma análise de discurso francês de inspiração pecheutiana. Verificou-se a presença de algumas insígnias da masculinidade hegemônica na construção da imagem do homem que elas passam, bem como estratégias de marketing utilizadas pela figura dos influenciadores digitais. Além disso, os conselhos dados são atravessados por diversos discursos que reforçam o lugar de submissão da mulher na sociedade, ancorando-se no determinismo biológico para a construção da ideia de que é ser mulher e homem. Também foi percebida uma ideia de sujeito neoliberal no que esses perfis falam e passam de imagem de indivíduo, e com isso uma captura de discursos oriundos de lutas feministas. Por fim, constatou-se que a base para a perpetuação desses discursos é muito firmada sob o solo da misoginia ainda existente em nossa sociedade, porém, neste contexto, é vendida com uma embalagem mais aceitável para o mundo contemporâneo e neoliberal.

Résumé: Social networks are present every day in people's lives in Brazil and have become important tools in the construction of subjectivities. Instagram, in particular, has taken center stage in people's lives in the last ten years, having previously been occupied by other types of media (television, magazines), with the added advantage of producing content 24 hours a day, seven days a week. On this social network we find profiles of men who can be recognized as \"relationship experts\" for women, who produce content with advice for them on how to achieve a lasting relationship, as well as selling courses with the same purpose for this audience, these profiles were the subject of this research. To this end, three profiles were chosen based on the affections that crossed the researcher's mind when she first came into contact with this content. These profiles were followed for three months in 2022, where three times a week the researcher entered them to record the stories that were posted, and also to select five posts from each profile per month to complete the sample of this research.After organization and classification, 73 materials (including posts and stories) made up the sample that was analyzed. They were analyzed using a French discourse analysis inspired by Pêcheux. We found the presence of some hegemonic masculinity insignia in the construction of the image of man that they convey, as well as the marketing strategies used by the digital influencers. In addition, the advice given is crossed by various discourses that reinforce women's place of submission in society, such as an idea of biological determinism in the construction of what it means to be a woman and a man. It was also possible to see an idea of a neoliberal subject in what these profiles say and pass on as an image of an individual, thus capturing discourses from feminist struggles. Finally, it was clear that the basis for the perpetuation of these discourses is very much based on the misogyny that still exists in our society, but sold in a more acceptable package for the contemporary, neoliberal world.