Covid-19 e mortalidade materna no Brasil: o que dizem os dados?

Abstract

A morte de uma mulher por complicações relacionadas à gravidez ou ao parto é uma tragédia, que exige esforços de diversos setores da sociedade para ser combatida. No contexto da pandemia de Covid-19, os desafios já existentes para a redução da mortalidade materna se multiplicaram, e infelizmente é possível que o impacto da pandemia seja bem maior do que foi registrado e divulgado. Este estudo, de natureza exploratória, descritiva e quantitativa, surgiu neste contexto, e teve como objetivo principal investigar quais as principais diferenças nos registros de sistemas de informações em saúde no período da Covid-19 comparado aos períodos anteriores à pandemia, no que diz respeito a mortalidade materna. Para isto, foram selecionadas 18 variáveis de estudo do Sistema de Informações sobre Mortalidade — SIM e do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos — SINASC, nas quais foram observadas e relacionadas as variações de seus registros ao longo dos anos, com um recorte temporal de 1996 a 2021, e foi construída uma aplicação web, baseada na linguagem de programação R e o pacote Shiny, que apresenta visualizações estatísticas das variáveis de estudo. Os resultados indicam que houve um aumento significativo dos registros associados à mortalidade materna no Brasil, que os registros de óbitos nos hospitais e de doenças infecciosas e parasitárias maternas estão relacionados com este crescimento, que a razão de mortalidade materna ultrapassou a meta global estabelecida pela ONU, de menos de 70 óbitos a cada 100.000 nascidos vivos, além de outras observações relevantes das demais variáveis selecionadas neste estudo. Esta contribuição dialoga e faz parte de um movimento de luta pela redução da mortalidade materna, e trabalhos futuros podem incluir dados mais recentes e novas perspectivas para este tema.

Abstract: The death of a woman due to complications related to pregnancy or childbirth is a tragedy that requires efforts from different sectors of society to combat. In the context of the Covid-19 pandemic, the existing challenges for reducing maternal mortality have multiplied, and unfortunately it is possible that the impact of the pandemic will be much greater than has been recorded and disclosed. This study, of an exploratory, descriptive and quantitative nature, emerged in this context, and its main objective was to investigate the main differences in the records of health information systems during the Covid-19 period compared to periods prior to the pandemic, with regard to maternal mortality. For this, 18 study variables were selected from the Mortality Information System — SIM and the Live Birth Information System — SINASC, in which the variations in their records over the years were observed and related, with a time frame of 1996 in 2021, and a web application was built, based on the R programming language and the Shiny package, which presents statistical visualizations of the study variables. The results indicate that there was a significant increase in records associated with maternal mortality in Brazil, that records of deaths in hospitals and maternal infectious and parasitic diseases are related to this growth, that the maternal mortality ratio exceeded the global target established by the UN, of less than 70 deaths per 100,000 live births, in addition to other relevant observations of the other variables selected in this study. This contribution dialogues and is part of a movement to fight for the reduction of maternal mortality, and future work may include more recent data and new perspectives on this topic.