Title: | Entre o risco e o prazer: uma cartografia dos afetos de homens gays cisgêneros usuários da profilaxia pré exposição ao HIV (PrEP) |
Author: | Ferreira, Diego Diz |
Abstract: |
Esta pesquisa cartográfica, realizada entre 2018 e 2022, teve como objetivo mapear e acompanhar os fluxos desejantes agenciados a partir dos ?novos? modos de vivenciar práticas sexuais mediadas pela Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP). A pesquisa foi conduzida a partir da escuta de relatos de homens gays cisgêneros usuários da PrEP que se reconhecem como ?barebackers? e/ou que praticam o sexo anal com outros homens sem uso de preservativos na maioria de suas relações sexuais, e também daqueles não identificado com essa prática que permanece utilizando o preservativo em conjunto com a profilaxia. O recorte temporal abrange a primeira onda de oferta de PrEP no SUS, momento caracterizado por uma política de acesso à tecnologia preventiva que prioriza determinados grupos identificados como \"população-chave\". O contexto de oferta é analisado pelo conjunto das estilizações do erotismo, do desejo e das técnicas de si produzidas no complexo terreno do dispositivo da sexualidade, dando destaque às atualizações do dispositivo da aids na era do regime farmacopornográfico. Ao identificar as forças macro e micropolíticas que resultaram na adesão à PrEP e aos efeitos discursivos provenientes das experiências dos usuários, foi possível localizar não apenas corpos e subjetividades apresentadas às formas dominantes, mediados pelo discurso do risco, mas também movimentos anárquicos à razão biopolítica que produz ?brechas para apropriações subversivas das normas. A estrutura das narrativas dos colaboradores sobre a adesão à PrEP parte de duas ancoragens distintas: a primeira, associando a prevenção do hiv a noções virtuosas e a uma autoresponsabilidade diante da infecção, alinhando-se ao discurso da saúde; é uma segunda representação que associa a PrEP como maximizadora do prazer ao proporcionar o sexo bareback, historicamente contraposto ao discurso da saúde, como uma prática de risco a ser controlada. A interação entre essas duas abordagens - um dilema entre \"santa\" e \"puta\" - é mapeada como figura cartografada síntese da produção de subjetividade, explicitando como os usuários usam esse par discursivo de maneira instrumental/utilitária; como artefactos identitários; e como uma estratégia de transgressão (\"devir puta\"), ressignificando o aspecto pejorativo do termo, estilizando modelos de biossociabilidades e redefinindo o significado do que é ser um barebacker em PrEP. Identificou-se três afetos/agências produtores de adesão: 1 - para(noia) de contágio causal, 2- para(noia) de contágio ambivalente, 3- para(noia) de contágio identitário epidemiológico. Tais agenciamentos vinculados à adesão à profilaxia são compreendidos como produções desejadas construídas no entrecruzamento dos dispositivos de risco, da aids e da sexualidade. Nas narrativas escutadas, inspiradas- se uma presente preocupação com a infecção por outras infecções sexualmente transmissíveis, explicitando que entre os usuários da PrEP permanece ativa a gestão pessoal do risco. Foi apresentada nas narrativas a visão da PrEP como propulsora de sentimentos de uma maior liberdade, autonomia, segurança e ampliação do prazer sexual, por mitigar o medo da infecção, ao passo que marcadores de estigmatização do usuário que poderiam afetar a experiência positiva da adesão. ativos, como: a ideia de antirretrovirais como uma medicação perigosa; uma associação entre uso de PrEP e promiscuidade; e a possibilidade de um usuário PrEP ser \"confundido\" como uma pessoa vivendo com HIV em tratamento, por usar a mesma classe de medicamentos e frequentar o mesmo equipamento de saúde, moduladores estes de adesão que indissociavelmente vinculam-se a marcadores da sorofobia. Abstract: This cartographic research, conducted between 2018 and 2022, aimed to map and monitor the desiring flows engendered by \"new\" ways of experiencing sexual practices mediated by Pre-Exposure Prophylaxis for HIV (PrEP). The study was carried out listening the narratives of cisgender gay men who are PrEP users, identifying as barebackers and/or engaging in anal sex with other men without using condoms in the majority of their sexual encounters. The research also included those not associated with this practice who continue to use condoms alongside with PrEP. The temporal scope of research grasps the initial phase of PrEP availability in the public health system, characterized by a preventive technology access policy prioritizing specific groups identified as \"key populations\". The offering context is analyzed through the framework of stylizations of eroticism, desire, and self-techniques produced in the complex terrain of the sexuality apparatus, with emphasis on updates to the AIDS apparatus, in the era of the pharmacopornographic regime.By identifying the macro and micropolitical forces shaping PrEP adherence and the discursive effects on users' experiences, the research located not only bodies and subjectivities conforming to dominant forms, mediated by the discourse of risk but also anarchic movements against biopolitical reasoning that create \"openings for subversive appropriations of norms.\"The narrative structure of contributors regarding PrEP adherence revolves around two distinct anchors: the first associates HIV prevention with virtuous notions and self-responsibility in the face of infection, aligning with the discourse of health; the second representation associates PrEP with the maximization of pleasure by enabling bareback sex, historically opposed to health discourse as a risk to be controlled. The interaction between two approaches - a dilemma between the \"saint\" and \"whore\" achetypes - is mapped as a cartographed synthesis of subjectivity production, illustrating how individuals use this discursive pair instrumentally/utilitarianly, as an identity artifact, and as a transgressive strategy (\"becoming a whore\"), redefining the pejorative aspect of the term, stylizing biosociability models and redefining the meaning of being a PrEP barebacker.Three affect/agencement producers of adherence were identified: 1) para(noia) of causal contagion, 2) para(noia) of ambivalent contagion, 3) para(noia) of identity epidemiological contagion. These agencements linked to prophylaxis adherence are understood as desiring constructions built at the intersection of risk, AIDS, and sexuality devices. In the narratives heard, a present concern with infection by other sexually transmitted infections was observed, indicating that risk management remains active among PrEP users. The view of PrEP as a promoter of feelings of greater freedom, autonomy, security, and increased sexual pleasure was present. However, stigmatization markers of users remain active, such as the idea of antiretrovirals as dangerous medication, the association between PrEP use and promiscuity, and the possibility of a PrEP user being \"confused\" as a person living with HIV in treatment, due to the use of the same class of drugs and attendance at the same health facilities, modulators of adherence indissociably linked to markers of serophobia. |
Description: | Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências da Saúde, Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, Florianópolis, 2023. |
URI: | https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/254671 |
Date: | 2023 |
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PGSC0370-T.pdf | 4.800Mb |
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